Três olhares sobre associativismo local

Por: Cátia Cardoso

1. Na última edição deste jornal, foram divulgados os valores dos apoios às associações concelhias.

Em 2023, o município investe quase 88 mil euros na atividade regular do tecido cultural e de recreio, enquanto que em 2022 esse valor foi de menos de 83 mil euros. Em 2023, são apoiadas mais associações do que no ano anterior. Todas as associações que, em 2022, receberam 15100€, 2100€ ou 1100€ perderam, em 2023, os 100€, à exceção de uma que passou de 1100€ para 1500€. Todas as associações que, em 2022, receberam 500€ viram esse valor duplicado este ano, à exceção de uma, que viu o valor sem alterações. Das restantes associações, que obtiverem apoio nos dois últimos anos, a esmagadora maioria não registou qualquer alteração ao valor.

Evidentemente que os valores sozinhos não dizem (quase) nada. Por isso, a maior conclusão que daqui podemos reter é que urge a revisão do regulamento da concessão de apoios ao desenvolvimento cultural, social, recreativo e desportivo do concelho – o que a 4540 Jovem já tinha defendido, designadamente no Conselho Municipal da Juventude, ainda antes do anúncio da revisão. Efetivamente, tenho vindo a defender a necessidade de revisão ao documento no contexto das coletividades que integro.

2. Um regulamento ajustado às necessidades e desafios desta década deve valorizar a inclusão, nas linhas orientadoras da ação de cada associação, de questões ambientais e de sustentabilidade, bem como da promoção da intergeracionalidade e abertura de portas, por parte da coletividade, à comunidade – por mais importantes que sejam atividades restritas a associados/as, há um propósito mais transversal no associativismo cultural e recreativo.

O novo regulamento deve também antecipar as datas, permitindo que sejam anunciados os resultados mais cedo e, consequentemente, atribuídos mais cedo os apoios. Não faz sentido que só a meio do ano as associações saibam se vão receber apoios financeiros do município e em que medida. A atual calendarização pode ser limitativa para a concretização dos planos de atividades. Urge também que seja valorizada de forma clara a taxa de execução dos planos de atividades – mais do que valorizar o histórico, pois faz mais sentido valorizar quem existe e faz do que simplesmente quem existe, e, infelizmente, sabemos como é fácil uma associação ficar inativa por anos…

Por fim, o novo regulamento tem de ser claro para associações e comunidade em geral. Não podemos continuar a olhar para valores, comparar valores, mas ignorando de que forma foi avaliado cada critério. Importa que as associações saibam concretamente qual a pontuação atribuída a cada critério, não apenas em nome da transparência que se pede aos serviços públicos, mas sobretudo para que cada uma saiba identificar os pontos fortes da sua candidatura e aqueles onde pode trabalhar mais no ano seguinte.

3. Cabe a dirigentes associativos/as, autarcas e comunidade em geral contribuir, com propostas concretas, para a fluidez do trabalho associativismo local. Importa conhecer a realidade local e, naturalmente, isso requer gosto e disponibilidade. Não basta o ruído das Assembleias Municipais, usando as associações como arma de arremesso, não basta barafustar nos jornais e não basta assumir cargos nacionais se não se conhecer o local.

Conhecer o local é comer sandes de porco no espeto e beber finos, jogar bilhar e cantar os parabéns a um centro cultural e recreativo. Conhecer o local é frequentar as sedes do tecido associativo e usufruir das suas condições, constando as necessidades ou anseios vigentes.

As associações locais não querem que o tecido político fale delas publicamente em atos de masturbação intelectual. As associações querem, precisam, que as conheçam, que participem nas atividades que organizam, que vão tomar café aos seus bares, que conheçam os seus elementos e convivam com eles. Assim, talvez, se tenha legitimidade para se falar sobre o tecido associativo local e fazer propostas concretas que visem a resolução ou simplificação de desafios por que passam estas pessoas que compõem o associativismo arouquense, de maneira que, em conjunto, possamos mesmo melhorar alguma coisa, em vez de usar essa alguma coisa para falar, mesmo sem conhecimento de causa.

sobre o autor
Cátia Cardoso
Discurso Direto
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