Três apontamentos sobre o Projeto Europeu

I – O Banco Central Europeu voltou a subir as taxas de juro. Como se compreende tal medida, sendo a situação económica, nos diversos países europeus, a que é? Como podem os cidadãos fazer frente ao contínuo aumento do custo de vida, juros do crédito da habitação em particular? Onde está o modelo social europeu, o tal Estado Social? A prognose de Pierre Mendès France, proferida na Assembleia Nacional francesa, no longínquo ano de 1957, no debate sobre o Tratado de Roma, talvez ajude a perceber a lógica que nos governa:

“O projeto do mercado comum, tal como nos foi apresentado, é baseado no liberalismo clássico do século XIX, segundo o qual a concorrência pura e simples resolve todos os problemas. A abdicação de uma democracia pode ser conseguida de duas formas, ou pelo recurso a uma ditadura interna concentrando todos os poderes num único homem providencial, ou por delegação desses poderes numa autoridade externa, a qual, em nome da técnica, exercerá na realidade o poder político, que, em nome de uma economia saudável, facilmente irá impor uma política orçamental e social; uma política única, em suma”.

II – Uma das mais destacadas europeístas do comentário político, lembrava na semana passada, o episódio da importação dos cereais da Ucrânia e do efeito nefasto que teve na produção de cereais na Polónia, destacado aliado da Ucrânia, as manifestações havidas nesse país contra tal medida e a necessidade que teve a União Europeia de desembolsar uns valentes milhões de euros para sossegar os polacos.

Ou seja, o nacionalismo polaco está de corpo e alma com o nacionalismo ucraniano e contra o nacionalismo russo, desde que isso não prejudique a Polónia. É lógico. A União Europeia liberaliza o acesso dos cereais ucranianos ao mercado europeu e paga, por razões geopolíticas, o preço necessário para acalmar os polacos e demais países prejudicados com entrada dos cereais ucranianos. Resumindo, cada um trata de si e a União Europeia do mercado e concomitante livre circulação de capitais.

III – Numa discussão entre duas sindicalistas nórdicas, uma sueca e uma norueguesa, e um amigo meu, este perguntou à sueca: Como é que a Suécia, com a histórica política de asilo a refugiados, caiu na esparrela do Erdogan, relativamente aos refugiados curdos? Talvez um pouco incomodada respondeu que a questão da imigração era complicada na Suécia de hoje, até porque a terceira força política local é um partido neofascista. Contudo, está convencida que não vão ceder às reivindicações turcas.

A discussão lá seguiu até ao momento em que o meu amigo, em jeito de provocação – falava-se dos valores democráticos da Europa -, atirou: a Europa é um mito e a União Europeia uma sucessão de tratados comerciais que vão sendo ajustados em função da correlação de forças dos países europeus no momento. Até aí a conversa fluía em inglês e entre todos. Nesse momento, as duas sindicalistas enveredaram por uma conversa entre ambas e numa língua nórdica.

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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