Todos os anos somos confrontados com o episódio dos rankings de escola, dos exames enquanto avaliação dos saberes escolares, da conversa das “melhores escolas” e das “piores escolas” e da inexorável decadência da Escola Pública. Apesar do pensamento muito popular que me ocorre, bardamerda, lá acabo, sempre, por escrever umas linhas sobre a coisa. Este ano, pelos vistos, não será diferente.

Fiz um esforço, procurei nem ver, nem ouvir, nem ler nada sobre a matéria. Mesmo assim chegou-me a piedosa frase de Queiroz e Mello, o senhor dos colégios: “os meninos pobres não podem ir para as melhores escolas” (leia-se, é necessário o cheque-ensino para os senhores dos colégios escolherem os “meninos pobres” que interessam). Ao que parece, na presente campanha, foram cartografados sociologicamente os contextos escolares e sociais e criados elaborados índices e escalas de análise. A coisa pia cada vez mais fino e é científica e tudo.

Sete palavras e o que elas significam hoje, no assunto em causa e no mundo em que vivemos.

O CAPITALISMO – sistema económico assente na acumulação de capital, de todo o tipo de capital, no qual tudo é mercadoria, tudo é transacionável.

A MÉDIA – valor médio da nota dos alunos examinados, por escola e por exame.

O UNIVERSO – cerca de metade dos alunos do ensino secundário. Praticamente só vão a exame os alunos do ensino regular.

O EXAME – cada vez mais o sistema de avaliação escolar – classificação do conhecimento aplicado na lógica de mercado (lógica da OCDE, evidente em testes, exames e demais standard comparativos. Não por caso vivemos a era de endeusamento das ciências aplicadas).

O RANKING – campeonato de escolas, no fundo, ordenamento, pela média de exame, do grau de seletividade e homogeneidade do universo examinado.

O ARDIL – o cerne da arte da guerra (Sun Tzu). Afinal de contas, é o aluno que escolhe a escola ou é a escola que escolhe o aluno?

“PEDIGREE” – característica ou características que distinguem os ungidos dos restantes.