Análise às Presidenciais 2021

Foi num contexto de crise sanitária, em pleno confinamento, semelhante ao primeiro ocorrido em março do ano passado, e já com o fecho das escolas decretado, que os portugueses foram chamados a votar no passado dia 24 de janeiro. Portugal era e é o país do mundo com maior número de novos casos e novas mortes por milhão de habitantes, de acordo com sites que recolhem informação estatística sobre a pandemia da Covid-19. E Arouca não foi também, nem é, infelizmente, exceção pois temos confirmados ao longo de todo o ano de pandemia mais de 1500 casos confirmados, cerca de 300 casos ativos e a lamentar 18 óbitos.

Esta eleição era um desafio que se afigurava muito complexo. Para mais quando, por questões técnicas associadas ao elevado número de inscritos nos cadernos eleitorais sem a respetiva capacidade eletiva, era previsível uma inerente e consequente altíssima abstenção! Porém, apesar de ter aumentado, não foi tão elevada como faria crer face à referida crise pandémica que vivemos, o que é um sinal positivo e faz com que os resultados eleitorais não destoem dos anteriores, mau grado mais este condicionalismo inesperado.

Apesar de todos os óbices, os resultados eleitorais são claros e inequívocos: Marcelo Rebelo de Sousa teve uma vitória muito folgada, obteve um aumento do número de votos e, inclusivamente, de percentagem. Por tudo isto, conseguiu uma confiança reforçada por parte dos portugueses para este segundo mandato. A sua magistratura de influência e de proximidade foi reconhecida para o mandato que se vai iniciar, o qual se prevê ser difícil devido à crise sanitária, a que se soma a crise social e económica. Em Arouca, Marcelo conseguiu reforçar a percentagem de votos, o que demonstra que estamos como o país, estamos com o Presidente.

Os restantes candidatos, nomeadamente os “candidatos de partido”, obtiveram resultados confrangedores, nomeadamente PCP e Bloco de Esquerda, donde podemos aferir que a estabilidade do Governo fica, paradoxalmente, mais definida. A derrota de Ana Gomes, que assegurou um paupérrimo 2º lugar, torna António Costa um dos vencedores desta eleição. A Iniciativa Liberal consegue mais um resultado em crescendo e vai sustentando o seu caminho mas, comungando eu das preocupações da opinião pública e publicada, o resultado de André Ventura, com soluções mais populistas e extremistas, conseguiu uma votação expressiva. Se existe algo que, na minha opinião, deve ser tido em conta é que devemos, mais do que vociferar contra ou simplesmente querer “eliminar” o mensageiro, devemos voltar a conquistar grande parte desse eleitorado vincadamente insatisfeito. Vejamos o exemplo de Arouca que foi o único concelho da Área Metropolitana do Porto (AMP) no qual André Ventura alcançou o 2º lugar! Temos de reconquistar essas pessoas para o espaço da moderação e do compromisso. Os nossos governantes e principais atores políticos têm de perceber que existem pessoas que estão revoltadas pela falta de atenção dada a territórios do interior. Em Arouca, as promessas foram-se acumulando e, por exemplo, a via estruturante de ligação ao litoral não evoluiu, estando agora a ser efetuada uma alternativa mas que não faz a ligação de Tropeço a Escariz, como perspetivava o troço original. Além disso, o poder local, ao ignorar soluções apresentadas pela Oposição para poder mitigar aquelas falhas do poder central, em nada contribui para “sossegar” uma parte considerável de arouquenses, quiçá justamente, indignados. Essa liderança do poder local em Arouca parece dar mostras de centrar a sua preocupação mais na lógica de reconquista do poder pela “marca pessoal” do que no real interesse das populações. Desse modo, não é de estranhar que Arouca seja o concelho dessa mesma AMP com a menor taxa de crescimento e, ainda por cima, o que tem menos população residente. Podemos concluir serem atitudes demonstrativas de uma insatisfação latente. Sendo a Câmara Municipal de Arouca a maior empregadora do concelho concentra em si própria uma exagerada tendência para a perpetuação do poder. E todos sabemos o quão nefasto e redutor isso é para o desenvolvimento equilibrado e diversificado do nosso município.

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
Partilhe este artigo
Relacionados
Newsletter

Fique Sempre Informado!

Subscreva a nossa newsletter e receba notificações de novas publicações.

O envio da nossa newsletter é semanal.
Garantimos que nunca enviaremos publicidade ou spam para o seu e-mail.
Pode desinscrever-se a qualquer momento através do link de desinscrição na parte inferior de cada e-mail.

Veja também