Portugal 1-5 Roménia

Por: João Riobom Teixeira-Núcleo Iniciativa Liberal de Arouca

Durante o Mundial de Futebol realizado fora de época, a opinião pública portuguesa andava quase tão preocupada com a ultrapassagem da Roménia no PIB per capita em 2024, como esperançosa com o potencial sucesso da melhor geração de futebolistas lusos de sempre. Todos os meios de comunicação social e comentadores estudam os números romenos, fazem reportagens no local e tentam perceber o porquê desta verdadeira vergonha nacional, inferior mesmo assim em impacto popular a um qualquer desaire futeboleiro.

Como um bom pai de família e liberal (as duas qualidades não são incompatíveis…), assistia há dias a uma série no Disney + (passe a publicidade) e dei com esta frase que resume na perfeição a origem do nosso descalabro nos índices de crescimento económico: “As provas são inúteis se não forem algo em que as pessoas já queiram acreditar. E receio que ninguém queira acreditar nisto”. Temos boas pessoas, bons trabalhadores que até são muito elogiados no estrangeiro, mas não temos bons dirigentes, nem uma estratégia a médio e longo prazo, andámos há décadas numa espécie de “navegação à vista” assente em ideias políticas completamente erradas. Mas no momento de votar a maioria dos cidadãos considera que está tudo bem e confia nos do costume, existindo até em algumas autarquias a convicção de que determinado edil “rouba, mas faz obra”. Ou seja, não adianta elencar as provas que explicam a goleada económica que a Roménia nos está a infligir porque quase ninguém quer acreditar nelas…

Mesmo assim, passemos a alguns dados comparativos. Assente em números oficiais, João Miguel Tavares escreveu no “Público” de 29 de Novembro: “Em 1990, o PIB português ascendia a 78,7 mil milhões de dólares – era o dobro do romeno. Em 1990, o PIB per capita português situava-se nos 7885 dólares – era quase cinco vezes o do romeno, de apenas 1670 dólares. Portanto, aquilo que alguém deveria urgentemente explicar é como é que a economia romena conseguiu crescer cinco vezes mais depressa do que a portuguesa nas últimas três décadas, e como é que 15 anos após entrar para a UE ela fez o que nós não conseguimos em 36”. Absolutamente estarrecedor…

Igualmente o “Expresso” de 2 de Dezembro se dedicou ao fenómeno romeno, apresentando uma série de gráficos para concluir que a Roménia cresce mais e Portugal é mais desenvolvido. Confirma-se que o PIB romeno vai ser em 2024 cerca de 137% superior ao do ano 2000, enquanto o PIB português cresceu no mesmo intervalo temporal modestos 21%. Em contrapartida, “se não há dúvidas de que a Roménia ganha a Portugal no campeonato do crescimento, no do desenvolvimento – onde pesam as condições de vida – o resultado é diferente. Em indicadores como nível dos salários, esperança de vida, mortalidade infantil e pobreza Portugal fica bem melhor”. E este semanário enviou inclusive jornalistas a Bucareste para tentarem perceber as razões do crescimento económico do ponto de vista da população, referindo-se que “predomina a sensação de que o desenvolvimento de que falam os números não reflete necessariamente um aumento significativo da qualidade de vida”.

Neste ponto da qualidade de vida, estamos todos de acordo, da extrema-esquerda à extrema-direita, das classes mais desfavorecidas às mais abastadas, qualquer que seja o credo ou o clube de futebol: Portugal é totalmente imbatível, basta o clima e a gastronomia para se “viver melhor” (embora com menos dinheiro, com maior carga fiscal e piores serviços públicos) do que em qualquer outro ponto do planeta. Pura e simplesmente, eu não quero ir viver para a Roménia e muitos romenos gostariam de viver em Portugal. Por isso é que é ainda mais gritante a falta de uma visão clara do que se pretende para o futuro e a ausência de um ímpeto reformista, aspetos em que até a Roménia – livre há apenas 30 anos do jugo de Ceausescu e do comunismo mais opressivo – nos bate por K.O.

Curiosamente foram divulgados recentemente os números do “índice de felicidade” que tem em conta o apoio social, a liberdade para escolher, a expectativa de vida saudável e corrupção, constatando-se que no conjunto dos 27 países da UE Portugal surge na 25ª posição, ainda pior que na escala só do PIB… e a Roménia está à nossa frente, com uma das maiores subidas dos últimos 10 anos a nível mundial. Portanto, em Portugal vive-se melhor qualitativamente, sem dúvida, apesar da frieza dos números indiciar o contrário.

Esta sensação de desperdício das características únicas do nosso país e das nossas gentes transparece no último artigo de opinião de Miguel Sousa Tavares no “Expresso”, a propósito, mais uma vez, da ultrapassagem da Roménia: “E assim, em lugar de fomentar uma sociedade de gente livre e empreendedora, onde se incentiva e premeia o risco e a iniciativa, transformámo-nos aos poucos numa sociedade de dependentes do Estado, hipotecando qualquer hipótese de futuro em nome da satisfação das reivindicações do presente”.

Continuemos, portanto, como a orquestra do Titanic, a votar nas mesmas pessoas e nas mesmas ideias políticas que nos trouxeram até aqui. E continuemos a desprezar todas e quaisquer vontades de liberalizar, reformar e descentralizar Portugal. Afinal, a Albânia ainda deve estar muito longe em todos os índices possíveis e imaginários…

O que já ninguém nos tira é que a Roménia cresceu cinco vezes mais neste século do que nós e, como entrou 20 anos depois na UE, Portugal foi derrotado em casa por 1-5.

O nosso “golo” é o critério “viver melhor”, assente no rico tempinho e na rica comidinha made in Portugal. Pode ser curto enquanto modelo de crescimento económico e como legado para as gerações vindouras, mas é o que temos.

7 de dezembro de 2022

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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