A (des)arte de construir futuro

Sem entrar por considerações filosóficas, define-se arte como a capacidade ou habilidade para a aplicação de conhecimentos ou para a execução de uma ideia.

Bilhetes adquiridos, visitemos as galerias do futuro!

O maior valor de uma terra são as suas pessoas, os seus costumes e os seus valores. E este será sempre o melhor cartão-de-visita para quem nos visita. Mas, principalmente e nunca questionável, o melhor motivo para cá concretizar o projeto de vida de quem cá cresceu ou de quem para cá veio viver ou trabalhar.

Chegados à galeria das políticas culturais em Arouca, o que temos é, essencialmente, uma perspetiva para a cultura frequentemente subordinada à “requalificação e alargamento” das infraestruturas existentes e a uma programação cultural sustentada pela turistificação.

O que existe não é muito mais do que uma programação de eventos em conformidade com a sazonalidade da atividade turística, abdicando-se do desenvolvimento e potencialização do trabalho dos agentes culturais com identidade de Arouca, promovendo a criação das suas raízes e a sua fixação, sem terem, em momento algum, de questionar a subsistência deste setor.

Uma política cultural que deve partir do reconhecimento de que existem no Município de Arouca as forças de produção cultural, individuais e coletivas, organizadas ou informais, ativas ou inativas, existentes ou sem condições de existir. As pessoas, as coletividades, as associações ou estruturas profissionalizadas.

O objetivo deve passar por investir na ativação, no apoio, na dinamização e na articulação com essas forças – da sua ação, dos seus movimentos, dos seus projetos, das suas necessidades e dos seus objetivos.

Não devemos diabolizar o turismo, também ele foi, é e será parte fundamental do nosso crescimento e desenvolvimento.

O que não devemos é servir-nos dos nossos agentes culturais quando dá jeito, em determinadas épocas do ano, esquecendo-os ao longo do restante tempo.

A Cultura deve de estar ao serviço de Arouca, mas Arouca também tem que estar ao serviço da Cultura e dos seus agentes.

Assim, à política que resume a cultura à animação e ao entretenimento, a um universo mercantilizado, devemos contrapor uma política de democratização da cultura.

Percorrendo, a seu momento, a galeria das políticas de educação em Arouca, vislumbramos uma mão cheia de nada.

Ou melhor, e corrigindo… mais uma vez, uma perspetiva sustentada pela “requalificação e alargamento” das infraestruturas existentes. Mas até aí, tudo bem, caros leitores!

É definitivamente importante e de louvar os investimentos que têm sido realizados pelo Município ao nível da modernização do Parque Escolar, como por exemplo a requalificação exercida na Escola Básica de Arouca. Mas não chega apenas ser feita obra!

Entre 2017 e 2019, a taxa de retenção e desistência no Ensino Secundário em Arouca passou de 10,8% para 16,4%.

Arouca é o município da Área Metropolitana do Porto em que existe a maior taxa de retenção e desistência no Ensino Secundário.

E isto não se reverte com obras!

Os municípios têm hoje um papel particularmente importante no que concerne à oferta formativa. Os desafios de hoje e de amanhã, não são os de ontem.

Assim, o Município não pode continuar a empurrar, ano após ano, por sucessivas vezes, uma revisão de fundo da Carta Educativa do concelho, datada do ano 2006, com o acréscimo de um apêndice em 2019 que retrata indicadores municipais dos anos de 2000.

Não conseguimos planear aquilo que não conseguimos medir. Assim, que sentido faz continuar a transpor uma realidade de há duas décadas, para a atualidade de 2021?

Estarão mesmo a construir futuro? Pensemos bem nisto.

Texto: Fátima Pinho

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Fátima Pinho
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