Manuel da Silva Bastos e uma vida dedicada aos Doces Conventuais

O DD já havia conseguido agendar, no ano passado, uma entrevista com o prestigiado empresário arouquense, no entanto, por impedimentos ligados à Pandemia de Covid-19 só este ano foi possível finaliza-la. Numa conversa tranquila e saudosa Manuel da Silva Bastos fez uma retrospetiva da sua rica e frutífera carreira, assim como, da sua vida partilhando curiosidades e experiências que muito enriqueceram este trabalho.

Apesar de se ter iniciado pelas áreas da restauração e doçaria, foi na segunda que se debruçou durante quase toda a sua vida. Manuel Bastos aprendeu a realizar os doces conventuais com a sua mãe, e à medida que ela foi deixando de conseguir confecioná-los, “eu tive de tomar a decisão: ou me dedicava à restauração ou à doçaria, até que fiquei só pela doçaria”.

Todas as receitas de doçaria conventual, e tal como nos confirmou o empresário, chegaram até ele por via de tradição familiar, “quem me ensinou foi a minha mãe, e por sua vez, quem ensinou à minha mãe foi a afilhada de uma das últimas duas monjas, que havia sido sua dama de companhia. O meu bisavô, inclusive, já era encarregado do convento, isto em meados de 1940, e daqui vem toda a ligação.”, explicou.

De referir que Ana Emília de Almeida, nascida a 24 de outubro de 1858 e falecida a 25 de setembro de 1947, a mestre da mãe de MB, adquiriu todo o conhecimento em meio conventual, com as duas últimas monjas do convento, que eram as sabedoras ancestrais destas receitas. Emília foi também a matriarca da Doçaria Conventual de Arouca tal como a conhecemos hoje, “primeira e única responsável pela continuidade dos doces produzidos no convento, pelas monjas, aquando da sua extinção.”, tal como se pode ler no quadro com a sua foto e a sua curta biografia, que está exposto na Loja dos Doces Conventuais de Arouca, de Manuel da Silva Bastos.

Uma família, mas não de sangue

Tal como referido durante a entrevista com o DD, o doceiro não se cansou de referir que os elos mais importantes para entender todo o sucesso que a sua marca hoje possui, reside nos conhecimentos passados pelas referidas monjas, e que acabaram por chegar até à sua família, através da sua afilhada. “Havia uma relação familiar, se bem que não de sangue, isto porque o meu bisavô ficou viúvo muito cedo, e com muitos filhos e ela ajudou-os a criar, de forma que a minha mãe e as primas eram como netas da Dona Emília. Até porque, quando ela estava doente ou era preciso alguma coisa a minha mãe e as primas é que iam ajudar/socorrer.”, salientou MB.

Desta forma ficamos a saber que neste seio “familiar” quem tinha mais contacto e intimidade com a Dona Ana Emília, afilhada das monjas/dama de companhia, era uma tia avó e a própria mãe de Manuel Bastos.

No entanto, quando o próprio já se havia inteirado de todas as receitas e decidiu abrir o seu negócio, fê-lo por volta dos anos 70, na sua moradia, local onde fazia o atendimento. A primeira moradia situava-se perto da rotunda da Prio, “só depois passei para outra mais próxima do parque municipal, e era lá, inclusive, que eu fabricava os doces.

De qualquer das formas o empresário confessou que a ideia “da viragem”, e de criar uma loja no centro de Arouca, já estava a ser pensada há muito com os seus filhos, ideia esta que acabou por se concretizar. “Eu não queria uma casa num prédio, que ficasse escondida, queria aproveitar algo no centro de Arouca, uma casa mais antiga. Dessa forma, arranjou-se este espaço aqui, e resulta que estamos muito bem”, acrescentou Manuel Bastos, referindo-se ao espaço que hoje possui na avenida 25 de abril em Arouca, mesmo em frente ao Convento.

De notar que todos os doces que a marca Manuel da Silva Bastos fabrica são “receitas do Mosteiro”, tais como (Barrigas de freira, Manjar de língua, Arroz de casamento, Charutos, Castanhas doces, Roscas, Morcelas, Bolas, Pão de São Bernardo), aprendidas e herdadas da maneira que anteriormente foi referida, à exceção das Pedras parideiras, os Ovos de pega e a Pedra broa, iguarias produzidas posteriormente.

Texto de Ana Castro

*para ler a reportagem completa adquira a nossa versão impressa já nas bancas;

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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