As reações dos líderes dos partidos que obtiveram atribuição de mandatos nestas Legislativas de 2025

AD – Montenegro celebrou vitória com recado à oposição: “O povo quer este governo e não quer outro”

Faltavam pouco mais de dez minutos para a uma da manhã quando Luís Montenegro subiu ao palco no quartel-general do PSD e CDS, acompanhado pela família, para reagir aos resultados das Eleições Legislativas. Num discurso marcado pela confiança, o líder da AD classificou os resultados como “uma grande vitória”.

“O povo falou e exerceu o seu poder soberano e, no recato da sua liberdade, aprovou de forma inequívoca um voto de confiança no governo, na AD e no primeiro-ministro”, afirmou Montenegro, assumindo legitimidade para continuar a liderar o executivo.

O presidente do PSD deixou ainda uma mensagem à oposição, fazendo um apelo à estabilidade política: “De uns e outros espera-se sentido de Estado, sentido de responsabilidade e, naturalmente, espírito de convivência na diversidade, mas também de convergência e salvaguarda do interesse nacional.”

Luís Montenegro declarou, com convicção, que “o povo quer este governo e não quer outro, o povo quer este primeiro-ministro e não quer outro”. E acrescentou: “Nós vamos ser, como sempre fomos, o Governo para todos, todos, todos.”

A noite eleitoral ficou também marcada pela demissão de Pedro Nuno Santos da liderança do Partido Socialista, após um dos piores resultados da história dos socialistas. Confrontado pelos jornalistas sobre quem gostaria de ver como próximo líder do PS, Montenegro respondeu com ironia: “Quanto a escolher líderes políticos de outros partidos, era o que faltava.”

Partido Socialista – Pedro Nuno Santos “Deixo de ser secretário-geral quando puder, se puder ser já…”

O Partido Socialista foi o grande derrotado, tendo registado o seu 3º pior resultado de sempre e muito provavelmente perderá a liderança da oposição para o Chega. Após ter perdido deputados nos últimos 3 anos (tendo agora 58, em comparação com os 120 de 2022), o único cenário esperado verificou-se: Pedro Nuno Santos pediu eleições internas no PS e anunciou que não será candidato. “Deixo de ser secretário-geral quando puder, se puder ser já… Pela simples razão de que o partido vai ter de tomar decisões muito importantes sobre a relação que terá de ter com o próximo Governo e a minha posição é muito clara. E eu não quero ser um estorvo…”, referiu a certa altura, durante a noite, na qual esteve sempre de semblante fechado perante o ambiente pesado da sala.

No discurso e nas respostas às questões dos jornalistas presentes, Pedro Nuno Santos olhou para os tempos atuais como difíceis, para a esquerda e para o PS, reforçou críticas a Luís Montenegro e considera que as razões que levaram o PS a exigir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) ao líder do PSD mantém-se intocáveis: “São tempos duros e difíceis para a esquerda e para o PS (…) Fizemos o nosso melhor: denunciamos o que estava mal na governação, apresentámos o nosso programa todos os dias da campanha. Não foi suficiente (…) Luís Montenegro não tem a idoneidade necessária para o cargo e as eleições não alteraram essa realidade (…) As razões que nos levaram a defender uma CPI mantém-se intocáveis, infelizmente para todos nós”.

Chega – André Ventura: “O Chega é o futuro do Governo em Portugal”

Outro dos grandes vencedores da noite foi o Chega. André Ventura afirmou ter feito história ao tornar o Chega no “segundo maior partido”, com 58 deputados eleitos. “Podemos declarar oficialmente e com segurança que acabou o bipartidarismo em Portugal”, assegurou, acrescentando que “nada ficará como dantes” após estas eleições.

O líder do Chega enalteceu também a ascensão do partido: “O Chega superou o partido de Mário Soares, de António Guterres. O Chega matou o partido de Álvaro Cunhal. O Chega varreu do mapa o Bloco de Esquerda”, referindo que esta foi “uma votação histórica em todo o lado” e prova de que “o Chega não é do sul nem do centro. O Chega é o futuro do Governo em Portugal.”

Ventura denunciou ainda o que classificou como um tratamento injusto por parte dos meios de comunicação durante a campanha, especialmente após o problema de saúde que enfrentou: “Há uma azia muito grande. Apesar de toda a mentira e de todos os ataques, de chegarem ao ponto de desvalorizar a saúde de alguém e o seu sofrimento, quero dizer que não vencemos contra ninguém nem vamos atrás de ninguém”

Sublinhou que o objetivo de vencer as eleições ainda não foi alcançado, mas repetiu a ambição de liderar o país no futuro: “Não conseguiremos a transformação que precisamos e que o país precisa enquanto não liderarmos este Governo.”

Iniciativa Liberal – Rui Rocha: “O nosso papel será de, no Parlamento, continuarmos a defender as nossas ideias”

Desde a entrada no Parlamento nas Legislativas de 2019, a Iniciativa Liberal tem vindo a conquistar eleitorado, tendo passado de apenas um deputado (2019) para 9 (2025). Apesar da eleição do nono deputado, que faz com que a IL supere pela primeira vez o número de 8 deputados (alcançados consecutivamente nas Legislativas de 2022 e 2024), este crescimento foi encarado sem grande êxtase.

Rui Rocha, líder do partido, assumiu o crescimento curto, mas afirmou que não teria feito nada de diferente. Este mostrou-se também disponível para contactos, até porque foi afirmando durante a campanha que seriam garantia de governabilidade, mas salientou que a IL continuará a ser firme nos seus valores, defendendo-os no Parlamento: “Não foi possível crescer mais, eu assumo esse ponto, mas fizemos tudo o que podemos. Olhando para trás, para esta legislatura e como esta terminou, para a campanha que fizemos, eu não teria feito nada diferente (…) Quero também ser claro quanto aos próximos dias: eu tinha dito, o partido tinha dito, nós seremos garantia de governabilidade, garantia de solução para o país. Olhando para os resultados, o que vemos é que as maiorias possíveis estão constituídas. O nosso papel será de, no Parlamento, continuarmos a defender as nossas ideias (…)”

Livre – Rui Tavares: “Aquilo que aconteceu esta noite não foi por falta de aviso”

Numa noite marcada por perdas significativas para a esquerda, o Livre destacou-se ao eleger seis deputados, o melhor resultado da sua história parlamentar. Rui Tavares, porta-voz do partido, não escondeu a satisfação e começou o seu discurso com agradecimentos aos mais de 200 mil eleitores que confiaram no projeto: “Nós não nos conformamos, não baixamos os braços e não achamos que seja normal ter um país em que a direita se radicalizou, em que a direita está em crescendo e em que a esquerda esteja a decrescer.”

Ao lado dos deputados reeleitos — o próprio Rui Tavares, Isabel Mendes Lopes, Paulo Muacho e Jorge Pinto — juntam-se agora Filipa Pinto, eleita pelo círculo do Porto, e Patrícia Gonçalves, por Lisboa.

Rui Tavares reconheceu que se avizinham “tempos difíceis” para a esquerda, face à vitória da direita e ao crescimento da extrema-direita. Ainda assim, o dirigente diz que “não faço a mínima tenção de ficar em casa.”

O líder do Livre afirmou que “aquilo que aconteceu esta noite não foi por falta de aviso”, salientando que “a esquerda tinha de se apresentar com um plano claro de alternativa de governação” Para Rui Tavares, não bastava criticar Luís Montenegro: era preciso oferecer propostas concretas em áreas como a saúde, habitação e educação.

CDU – Paulo Raimundo: “O resultado não reflete a expressão do apoio e reconhecimento que a campanha mostrou”

Apesar dos festejos antecipados da manutenção dos quatro deputados, a CDU voltou a perder deputados (cenário que se tem verificado desde 2015, altura em que a CDU teve 17 deputados), passando agora para apenas 3 (António Filipe seria o 4º deputado, mas esse cenário não se verificou devido à eleição de Inês Sousa Real, do PAN, para quem a CDU perdeu um mandato)

Paulo Raimundo, porta-voz da CDU, viria mesmo a confessar que os resultados se distanciaram do esperado, porém manteve-se firme ao afirmar que irá combater as forças de direita: “Nesta campanha eleitoral, nesta luta por tudo aquilo quanto importa na vida dos trabalhadores, do povo, da juventude e do país, afirmamos a CDU como uma grande força de coragem, de seriedade e de confiança. (…) O resultado da CDU, marcando resistência num quadro particularmente exigente e face a múltiplos vaticínios, não reflete nem a expressão do apoio e reconhecimento que a campanha mostrou, nem o que a situação do país exigia, com uma CDU mais reforçada, para responder aos problemas e enfrentar as forças e projetos reacionários. (…) Cada voto na CDU é uma expressão de compromisso com outro rumo na vida política nacional, um voto de exigência de rutura com a política de direita e que contarão para enfrentar com coragem, com muita coragem, a direita, a extrema-direita e os interesses do capital”

BE – Mariana Mortágua: “É importante assumirmos esta derrota com toda a humildade de frontalidade”

O Bloco de Esquerda foi um dos grandes derrotados, perdendo o seu grupo parlamentar. A única eleita foi a líder partidária, Mariana Mortágua, que assumiu de imediato a gravidade do resultado: “A Esquerda tem uma derrota importante, o BE tem uma grande derrota esta noite e é importante assumirmos esta derrota com toda a humildade de frontalidade.”

Nas declarações prestadas, a líder bloquista mostrou-se empenhada com o futuro do partido: “Temos muito trabalho pela frente para construir a Esquerda, alargá-la e enfrentar a extrema-direita. Cá estaremos para o fazer. Temos muito trabalho pela frente”, referiu.

Alertou ainda para o avanço da extrema-direita, que, segundo considera, arrasta consigo a “ideologia do medo e do ódio”. Ainda assim, Mariana Mortágua defendeu o trabalho feito pelo partido durante a campanha, onde trouxeram “toda a força” e “toda a nossa história e presente”.

PAN – Inês Sousa Real: “Gostaríamos de ter elegido um grupo parlamentar”

Foi apenas perto da meia noite que o PAN viu a confirmação da continuidade de Inês Sousa Real no Parlamento, como representante única do partido. Depois de entrar no Parlamento em 2015 com um deputado único, o partido atingiu o seu melhor resultado na legislatura seguinte (2019) e, desde então, jamais conseguiu crescer.

Inês Sousa Real, porta-voz do partido, frisou que o partido tem conseguido resistir, apesar de admitir que não foi o resultado desejado, tanto para o partido como do ponto de vista democrático: “Há três eleições que têm anunciado que o PAN ia sair do Parlamento e nós continuamos aqui (…) Tenho consciência de que não é o resultado que nós gostaríamos de ter tido, gostaríamos de ter elegido um grupo parlamentar, seria importante que tivéssemos conseguido, noutras área geográficas onde já elegemos, mas sabemos também que o voto útil acabou por prejudicar, mais uma vez, a pluralidade democrática. Hoje é um dia triste do ponto de vista democrático para vários partidos e não apenas o PAN”

JPP – Filipe Sousa: “Somos os grandes vencedores desta eleição”

O JPP, Juntos Pelo Povo, foi decididamente a grande surpresa destas Legislativas, ao entrar pela primeira vez no Parlamento. Pelo Círculo Eleitoral da Madeira, região onde o partido, de perfil regionalista, foi fundado em 2008, Filipe Sousa foi o eleito e uma das figuras da noite: “Este é o resultado do trabalho que o JPP tem vindo a desenvolver nesta região desde 2013. A nossa forma de estar e o nosso sentido de tolerância foi ganhando aos poucos a confiança da população (…) Com todo o crescimento dos populismos, conseguimos superar os nossos resultados. Superámos sem estar à sombra de líderes nacionais (…) Acabei de subir mais um degrau (…) Somos os grandes vencedores desta eleição (…) Pontapés para o ar não vamos dar, de certeza, vamos analisar o caderno de encargos, quer seja à esquerda ou à direita. Se os interesses, primeiro, da Madeira falarem mais alto, é para onde vamos passar a bola.”

Texto: Sofia Brandão e Simão Duarte

Fontes: RTP,  Jornal de Notícias, Público, Antena1

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