Nos últimos anos, Arouca tem enfrentado uma gestão municipal que, em vez de aproximar os cidadãos das decisões, tem reforçado uma postura centralizadora, opaca e, por vezes, distante das reais necessidades da população. Este cenário reflete-se em diversos fatores que merecem análise, desde a aplicação do orçamento municipal até à comunicação institucional, passando pela falta de descentralização de competências e pela ausência de regulamentos claros.
Os dados orçamentais de Arouca demonstram um foco excessivo em projetos e mais projetos e mais projetos, de grande escala, que muitas vezes negligenciam as verdadeiras necessidades da população. Por exemplo, enquanto se investe em iniciativas que autopromovem uma imagem pública favorável, problemas estruturais como acessos em más condições, ou outros problemas primários, como a falta de saneamento ou apoios às populações mais vulneráveis continuam relegados a segundo plano. Isto causa uma desproporção que evidencia de forma clara, uma falha grave na definição de prioridades, questão que deveria ser guiada por um diálogo aberto e participativo com a população e órgãos de decisão próximos do cidadão como as juntas de freguesia, aproximando assim a decisão do que deve ser a prioridade política: o cidadão. O cidadão tem o direito de saber como e onde o dinheiro público é gasto, e esta transparência não pode ser um mero adereço, mas um princípio e prioridade fundamentais da governação.
Outro problema estrutural é a ausência de uma verdadeira descentralização de competências. Embora o discurso oficial frequentemente promova a ideia de proximidade com os cidadãos, na prática, as freguesias permanecem dependentes das decisões tomadas pelo executivo municipal, que nem sempre está atento às particularidades e desafios dos fregueses. A descentralização efetiva seria uma ferramenta que ajuda a garantir que as decisões atendam às especificidades de cada freguesia, promovendo uma administração mais eficaz, adaptada e mais próxima da realidade das pessoas. Contudo, essa mudança parece estar constantemente adiada, perpetuando um modelo centralizado que já se provou ineficaz e distante do cidadão.
Também com destaque negativo, a comunicação institucional que, em vez de informar com clareza e objetividade, a mensagem tende a ser marcada por um tom de autocelebração, que omite os desafios reais enfrentados pelo município e, de forma egocêntrica, cria uma falsa perceção de progresso, mascarando problemas que continuam por resolver em vez de comunicar com os cidadãos de forma clara, transparente e, acima de tudo, útil. Só assim será possível fomentar uma cidadania ativa e informada, capaz de contribuir de forma significativa para a tomada de decisões. A falta de procedimentos administrativos claros, atuais e acessíveis, bem como a ausência de regulamentos bem definidos, gera frustração nos munícipes e cria barreiras desnecessárias à participação cidadã. Sem mecanismos transparentes, sem barreiras e acessíveis, as pessoas sentem-se afastadas do processo de decisão, que por sua vez causa desconfiança nas instituições locais e promove um ciclo de desinformação e desinteresse.
Os censos mais recentes de Arouca apresentam ainda outro alerta preocupante: o envelhecimento da população e a saída dos jovens em busca de melhores oportunidades nos centros urbanos. Estes dados não podem ser ignorados e exigem medidas concretas que promovam a fixação de jovens no município, bem como estratégias que assegurem qualidade de vida para as gerações mais velhas, como priorizar o investimento no bem-estar da população, mas tal só será possível com uma administração que coloque o cidadão no centro das suas ações em vez de se colocar no centro da decisão. A solução para estes problemas é clara: é urgente adotar um modelo participativo, onde os cidadãos sejam efetivamente incluídos na tomada de decisões, criando mecanismos como verdadeiros orçamentos participativos, consultas públicas e plataformas digitais de interação município-munícipe, garantindo dessa forma a inclusão e responsabilização do cidadão na decisão. É preciso romper com a lógica de desinformação ou informação seletiva, substituindo-a por uma abordagem que valorize a transparência, a escuta ativa e a corresponsabilidade. Arouca só conseguirá enfrentar os desafios que se avizinham se colocar os seus cidadãos no centro da decisão. Manter o atual modelo de governação é perpetuar desigualdades e distorcer a realidade.
É hora de construir uma democracia local mais justa, transparente e inclusiva, onde cada Arouquense se sinta parte integrante do futuro que deseja para Arouca, passando de espectador a protagonista.
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