Marcos d’ Mateus lança livro sobre o volfrâmio e exploração mineira em Arouca

Obra “A Maldição das Pedras Negras”  já está à venda e será futuramente apresentada no concelho 

O escritor, com ligações a Arouca, Marcos D. Mateus lançou o seu mais recente livro, no início deste ano, intitulado “A Maldição das Pedras Negras”. O romance, que decorre entre 1941 e 1945, explora uma trama em volta do negócio do volfrâmio e da exploração mineira em Cabreiros, Rio de Frades, Regoufe e Porto, e será brevemente apresentado em Arouca.

Foram as “histórias” contadas pelos seus avós maternos, principalmente pela sua avó, que despertaram em Marcos o “interesse por este período” e, “em particular”, pelo que se “passava nas terras de Arouca”. “Essas memórias familiares levaram-me a explorar o impacto dos negócios do volfrâmio em Portugal”, confessou, o que resultou no seu “fascínio pelas minas de Regoufe e Rio de Frades”, bem como “pelas aldeias vizinhas” e o “papel que desempenharam nesse contexto histórico”.

“A ideia de maldição reflete tanto o sofrimento e associado à mineração, como a ruína que se seguiu à guerra”

O livro conta com uma mistura de personagens reais e fictícias, entre elas “algumas figuras históricas bem conhecidas”, outras bastante pessoais para o autor, tais como os seus avós “Custódio e Maria”, (figuras centrais na história), assim como “as suas famílias e as suas gentes”, cujas histórias teve acesso. A obra assume-se como “um romance com toda a liberdade criativa que isso permite”. “Nesta mistura há personagens para todos os gostos alemães, ingleses, portugueses, ditadores, espiões, bruxos, santos”, enumerou.

No que concerne ao protagonista da história, “o volfrâmio”, esse era “essencial para a indústria do armamento”, devido à sua densidade e à sua capacidade de se misturar com outras metais e formar ligas extremamente duras, “usadas em projéteis e blindagens”. A ideia de maldição no livro, segundo o autor, “reflete tanto o sofrimento e as mortes associadas à mineração”, como a “ruína que se seguiu à guerra”. “É uma metáfora para os custos humanos e sociais deste metal negro, na altura tão valioso.”

“Há personagens para todos os gostos alemães, ingleses, ditadores, bruxos”

Escrito ao longo de vários anos, período em que Marcos d` Mateus fez “uma pesquisa variada” para chegar ao resultado final, o making of do livro contou ainda com a consulta de “artigos históricos e científicos” e “relatórios secretos americanos e ingleses”, da época da Grande Guerra, que foram “desclassificados e tornados públicos”. O diálogo com “várias pessoas de Arouca”, que partilharam consigo “memórias e histórias do período”, foi também essencial, pois permitiu “aceder a algo que os livros e os documentos não oferecem, a verdade vivida e sentida por quem realmente esteve lá”.

Revelando que “o maior desafio” foi “reunir toda a informação e transformá-la numa história apelativa que mantivesse o leitor preso às páginas”, o autor confessou que fez também um esforço significativo para “ligar os factos e a ficção de uma forma coerente e credível”. Além disso, construir uma linha temporal que “conectasse as pequenas histórias” entre si, (que ouviu dos seus avós), “mas também os acontecimentos nos teatros de guerra no cenário internacional” revelou-se “um trabalho exigente, mas fundamental para dar forma ao romance”.

“Desde criança que tenho uma grande estima por Arouca”

Numa fase inicial do livro, Marcos d` Mateus deslocou-se às Minas de Regoufe e Rio de Frades, e baseou-se “em descrições encontradas em documentos e artigos para dar vida a esses locais”. Todavia, mais tarde, confessou que “sentiu a necessidade e curiosidade de visitar as minas para compreender melhor o ambiente, e imaginar como tudo teria sido naquela época”. “Foi uma experiência enriquecedora e recomendo vivamente a visita a esses locais, que ainda hoje guardam uma atmosfera de mistério”, assegurou.

Em criança visitou várias vezes Arouca com os seus pais e avós, “dada a proximidade com São João da Madeira”, onde nasceu. O concelho tinha um “significado especial” para os seus avós maternos, que eram de Cabreiros, e “conheciam bem a região”. Revelou ter ficado “especialmente intrigado” ao descobrir que, “durante a guerra, Arouca era o único lugar do mundo onde ingleses e alemães conviviam”.

Apesar de não saber “como ou quando”, o escritor tem a certeza que vai apresentar o livro em Arouca. “Acredito que fará todo o sentido partilhar esta obra numa terra tão central à história que ela conta”, desvendou.

O livro tem sido muito bem recebido sobretudo “por revelar uma parte da nossa história desconhecida para a maioria das pessoas”. Muito embora ainda não tenha recebido “muito feedback”, uma vez que o livro foi lançado apenas em meados de janeiro, “já surgiram convites para apresentações em escolas, bibliotecas e clubes de leitura.”

Ao longo dos anos, Marcos d` Mateus falou com várias pessoas de Arouca e arredores, apercebendo-se que existe “uma memória muito forte entre as gerações mais velhas”. Simultaneamente o município tem incentivado o interesse por esse período, “evitando que caia no esquecimento”, lembrou, notando que “novas gerações nem sequer têm ideia do que se passou nas terras de Arouca durante a guerra, e poucos sabem o que é o volfrâmio”.

 

Sinopse 

A história do livro decorre entre 1941 e 1945, centrando-se em duas famílias de Cabreiros, “os do Aido” e “os do Pedro”, de onde são as duas personagens principais: Custódio e Maria. Durante esses anos, Custódio e os seus quatro irmãos envolvem-se nos negócios do volfrâmio, utilizando a taberna do pai como ponto de recolha do minério que depois vendem aos ingleses.

Esse envolvimento, aliado à dinâmica de uma aldeia marcada por desafios e visitantes de toda a espécie, acaba por ter consequências que vão muito além das serras portuguesas, contribuindo para o desfecho da Segunda Guerra Mundial. A narrativa desenrola-se entre Cabreiros, Rio de Frades, Regoufe, o Porto e até o bunker da Chancelaria em Berlim, onde Hitler se suicida com uma bala endurecida com volfrâmio das serras portuguesas.

Ana Isabel Castro

 

O autor Marcos d` Mateus

 

Capa da obra

 

 

 

 

 

 

 

sobre o autor
Ana Isabel Castro
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