Humanidade, memória e futuro em destaque na apresentação de “A Última Lição de Manuel Sobrinho Simões” em Arouca

Na tarde da passada terça-feira (feriado de 10 de junho), a Loja Interativa de Turismo acolheu a apresentação do livro “A Última Lição de Manuel Sobrinho Simões”, uma obra que percorre a vida e ideias de um dos mais brilhantes portugueses. Perante uma casa muito bem-composta, o evento contou com a presença do próprio Manuel Sobrinho Simões, do autor do livro, Luís Osório, da Diretora Executiva da Contraponto, Marta Silva Mesquita, e da vice-presidente da Câmara Municipal de Arouca, Cláudia Oliveira.

Foi precisamente a vice-presidente da CMA quem deu início à conversa, sublinhando a ligação afetiva da obra ao território “para além de ter a representação de Arouca, é um livro que nos puxa a humanidade, que nos lembra como as pequenas coisas fazem diferença e são importantes”, referiu.

Seguiu-se uma intervenção de Marta Mesquita (Diretora Executiva da Contraponto) que abordou a importância da comunicação no nosso dia-a-dia. “Com a vida corrida que temos, já falamos pouco. E a conversa é o lugar privilegiado para conhecer o outro, para escutar e para instigar a nossa curiosidade sobre outras vidas além da nossa. E é precisamente isso que este livro faz.”

A diretora da Contraponto acrescentou ainda: “É um livro muito bonito, porque revela o Professor Sobrinho Simões em todas as suas dimensões e idades. E em todas essas dimensões, há uma constante: ele olha sempre para o outro. E isso, infelizmente, é raro nos dias que correm.”

“Há cada vez menos pessoas que nos ajudam a iluminar o caminho”

 A apresentação prosseguiu com Manuel Sobrinho Simões a explicar como foi o processo que deu origem a este livro. “Foi durante dois anos que conversámos e foram quase 200 horas de gravação. Ele (Luís Osório) fez uma narrativa e organizou. E é verdade que, ao fazer isso, ele reproduziu esta ideia da memória”, começou por apontar. “Há uma coisa muita engraçada que é a noção da importância do outro, no sentido de pensar com o outro. Eu acho que o que nos falta mais é pensar. E falar com o outro é pensar. Eu gosto de falar com pessoas, porque ajuda-me a pensar. Ninguém pensa sozinho. Este livro acaba muito por ser o resultado de nós pensarmos em conjunto”, concluiu.

Jornalista e autor desta obra, Luís Osório não escondeu a admiração por Sobrinho Simões. “Para mim é um orgulho ter estado tão próximo deste homem, numa altura em que faz tanta falta quem pense. Há cada vez menos pessoas que nos ajudam a iluminar o caminho”, mencionou.

Osório realçou ainda alguns aspetos que mais o surpreenderam. “Eu fui surpreendido por ele (Sobrinho Simões) ser um homem contra o tempo. Ele não fez conceções, foi sempre ele próprio. Tem o sonho, tem a competência, mas tem a capacidade de também ser racional. Depois, é alguém que tem um vocabulário próprio. Nós somos do tamanho das palavras que conhecemos. Quando ele (Prof. Sobrinho Simões) abre a boca surpreende-nos sempre”. Além disso, evidenciou que “ele consegue ser absolutamente admirado e respeitado, mas, ao mesmo tempo, tem uma linguagem que chega a todas as pessoas. Este livro tentou respeitar essa característica”. Por fim, fez nota sobre o capítulo dedicado ao cancro, referindo que foi “incrível como aprendi não sobre o cancro, mas sobre nós, sobre a condição humana”.

 

“Temos de aumentar a capacidade de perceber os outros”

A tarde fez-se de momentos descontraídos, com tempo para contar algumas histórias que animaram a plateia. Porém, os temas sérios não foram descartados e tiveram o seu papel e lugar. Manuel Sobrinho Simões olhou com preocupação para o futuro, principalmente no que ao relacionamento interpessoal diz respeito. “Nós vamos ter cada vez mais tempo após os 70 anos. Se eu tiver de identificar o grande problema deste país, para além da pobreza, é a demografia. A demografia é um problema que eu não sei como é que vai ser resolvido. Preocupam-me muito a solidão, a insegurança e o sofrimento. Isso vai aumentar cada vez mais à medida que as sociedades não têm resposta. É o que me assusta mais.”

Professor catedrático e fundador do IPATIMUP (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular e Celular da Universidade do Porto), Sobrinho Simões abordou a questão do cancro, mas sempre com os desafios da sociedade como base da conversa. “Eu tenho imenso medo do cancro, porque eu sei que se tiver um cancro mau, e se tiver pouca sorte, isto vai correr mal. É verdade que o cancro está a aumentar muito, mas é sobretudo por causa das pessoas ficarem muito mais velhas. Hoje, 2/3 das pessoas com cancro já não morrem de cancro. Podem morrer com cancro, mas não é de cancro”, expôs.

“Tenho muito mais medo em termos da sociedade, sobre o que está a acontecer com as pessoas: as alterações cognitivas, mentais, as perturbações emocionais, a solidão e o sofrimento. Temos de aumentar a capacidade de perceber os outros”, completou.

Fotos: Carlos Pinho

sobre o autor
Sofia Brandão
Discurso Direto
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