O meu país renascido

Cinquenta e um anos após a madrugada de esperança, em que o meu País, subjugado por um regime enclausurado, renasceu da escuridão e da incerteza, da proibição de ler e aprender, de ser livre, do direito a discordar. Abriram-se as portas às regras do mundo civilizado, as mulheres libertaram-se da submissão à obediência e ao segundo plano, passaram a seres humanos de pleno direito, a assumir a inteligência, o saber e a sensibilidade, o direito a votar e a serem eleitas. Terminava a condenação dos jovens à guerra, à sujeição do poder da ditadura, à falta de liberdade para pensar e agir, à vida dura de trabalho mal pago, a emigrar para fugir e sustentar a família com dignidade. Na madrugada da mudança desejada, chegou a esperança de uma vida com liberdade, com direito a viver e a sentir, a decidir, sobre os direitos e deveres de um País com democracia, sem censura ao que se pensava, ao que se escrevia, ao que se imaginava. Um País igual a si mesmo: pobre e contido, mas com direito a ser livre e a evoluir.

Foi a madrugada do renascer da paixão pela vida, ornada de cravos vermelhos e de alegria, mas assente em responsabilidade e contenção, para que a revolução dos homens fardados conduzisse o País pelo caminho desejado, da paz e da harmonia, como veio a acontecer. Os homens com o poder das armas usaram a inteligência, a ponderação e o saber, para darem aos portugueses, como eles, o poder de decidirem o futuro da Nação. Em vez de sangue, correram as músicas, as trovas, os sorrisos, os abraços, o sentimento de que eramos todos irmãos.

Passado um ano, os portugueses provaram a sua maturidade e o sentido do dever, de cidadãos de pleno direito, com o seu voto na escolha da Assembleia Constituinte. Passamos a ser um Portugal respeitado, que não deixara de ser pobre, mas com caminho aberto à evolução, ao direito à educação e ao saber, à luta por uma vida melhor, pelo fim de uma guerra absurda que levava muitos de nós, jovens desse tempo, a enfrentar a morte em outro continente. As eleições de 1976 provaram a força responsável das mulheres e homens de Portugal que elegeram os mais capazes. Só o desconhecimento do passado real, e a subordinação a teorias extremistas, justifica os que afirmam hoje que a opção foi errada, por que eramos ignorantes e incapazes. A verdade é que os seis milhões de eleitores, mais de noventa por cento dos recenseados, foram às urnas e decidiram com convicção, pela democracia e pela liberdade plena. Se hoje dizem que a opção foi errada é fácil concluir para onde nos querem levar.

Dia 18 há uma nova ida às urnas, que deverá ser maciça, para eleger os que nos representarão na próxima legislatura. Que desejamos mais duradoura e responsável que a anterior. Cada uma e cada um dos eleitos têm o direito de manter as suas convicções, mas não podem esquecer que o são para propor e defender medidas que sirvam os Portugueses e o País em que vivemos, e não interesses meramente partidários ou de grupos com ligações por vezes duvidosas. Há muito para fazer e dessa necessidade devemos ter consciência, incluindo a eliminação dos solavancos que fazem tremer as bases da democracia, em Portugal e no Mundo. Os eleitos devem ser fiéis ao voto de quem os elege e não a palavras ocas, quantas vezes sem sentido, de alguns que se consideram detentores de verdades absolutas. Os mais representativos deverão pensar em responsabilidades acrescidas e na hipótese de conciliação de ideias, propósitos e acordos. 

Para terminar, uma palavra de respeito e admiração por um Homem que ficará na nossa memória para sempre. Um Homem simples e objetivo, conhecedor da realidade do mundo em que vivemos e lutou pelo seu equilíbrio. Pela Paz e concórdia entre os povos, pelo fim do assassinato em massa de dezenas de milhares de inocentes. Alguns dos que ignoraram as suas súplicas, realçaram agora a sua hipocrisia ao participarem no seu funeral e um, até diz que também deseja ser “papa”. Em muitos de nós, que não tivemos o privilégio de estar com ele em vida, resta-nos a esperança de podermos concretizar a seguinte mensagem: “ATÉ UM DIA, PAPA FRANCISCO”.

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