Honestidade intelectual: precisa-se!

Em qualquer democracia madura, espera-se que o debate político seja sustentado por argumentos sólidos, confronto de ideias e compromisso com a verdade. 

Infelizmente, o cenário português não tem fugido à regra global de deterioração do discurso político, onde a desonestidade intelectual se tornou ferramenta habitual. Um exemplo recente dessa prática foi protagonizado por Pedro Nuno Santos, líder do Partido Socialista, ao afirmar em diversos momentos da sua campanha eleitoral e até mesmo aquando do último debate televisivo, que o atual Governo, e sobretudo o Partido Social Democrata, teriam proposto a privatização do sistema público de pensões — uma alegação que, ao ser confrontada com os factos, não encontra sustentação, dado que tal não foi proposto em nenhum momento. 

Esta afirmação, feita com intenção claramente eleitoral, é emblemática do uso da desonestidade intelectual como arma política, um apanágio do Partido Socialista (seja no âmbito Nacional, seja na esfera Local através do atual Executivo Camarário como logrei demonstrar em outros artigos de âmbito Local).

Esse tipo de manobra é particularmente perigosa por duas razões. Em primeiro lugar, porque retira qualidade ao debate democrático: em vez de se discutir de forma séria e informada os desafios reais do sistema de pensões — como a sua sustentabilidade a longo prazo — opta-se por plantar alarmismo e desinformação. Em segundo lugar, porque contribui para a crescente desconfiança dos cidadãos na classe política como um todo. Quando se percebe que os líderes estão dispostos a manipular os factos para marcar pontos, o sentimento que fica é o de que “todos mentem”, alimentando o cinismo e o afastamento dos cidadãos da participação política.

É importante sublinhar que a crítica política é legítima e faz parte da democracia. Mas tem de existir uma linha clara entre crítica e manipulação. Dizer que um partido tem uma visão diferente sobre a gestão da Segurança Social é uma coisa; afirmar, sem base factual, documental e outras, que pretende privatizá-la é outra completamente diferente. E quando essa distorção é feita com intenção de enganar o eleitorado, estamos, apenas e só, perante desonestidade intelectual. Eleitorado esse, o mais velho, que o Partido Socialista tem vindo a perder, urgindo, portanto, a necessidade de adoção de práticas para o voltar a conquistar…, mas não pode mesmo valer tudo!

Isto, porque em nenhum momento foi proposta a privatização da Segurança Social, o que está em cima da mesa por ainda se encontrar a ser pensado, afigurando-se, portanto, como coisas bem diferentes, é que parte do sistema passe a ser de capitalização, dada a falência já comprovada em que se encontra o atual sistema. 

Contrariamente, Pedro Nuno Santos sugere que o sistema deve continuar a assentar nos presentes moldes, devendo sim serem encontradas outras novas formas de financiamento da Segurança Social… todos nós sabemos o que isto significa: aumento de impostos!

Um argumento falso, quando repetido sucessivamente e com convicção, rapidamente se transforma em “verdade” nas redes sociais, nos cafés, nas conversas do dia-a-dia e, em geral, na opinião pública. Assim, uma afirmação infundada feita por um qualquer líder partidário pode tornar-se, para muitos cidadãos, uma realidade incontestável — sem nunca ter sido verdade.

É urgente que os partidos e os seus líderes assumam a responsabilidade que têm no fortalecimento (ou na degradação) da democracia. Uma qualquer estratégia política não pode justificar o recurso à mentira, à manipulação e à disseminação de inverídicas informações. Numa época em que as fake news se espalham com facilidade, os políticos devem ser os primeiros a dar o exemplo de integridade intelectual, o que não se tem verificado por parte de muitos destes. E enquanto assim for, a democracia será a principal vítima. 

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