2025: Ano de Eleições

Na minha primeira crónica deste ano de 2025, como tem sido hábito desde que escrevo nesta coluna, refleti sobre os balanços e perspetivas para Arouca, tendo em consideração as eleições autárquicas que se avizinham. Os arouquenses serão chamados a escolher os protagonistas e programas políticos para os próximos quatro anos. Longe estaria de imaginar que, antes mesmo destas eleições, seríamos surpreendidos por uma crise política inesperada, levando a eleições legislativas antecipadas a 18 de maio.

Infelizmente, voltaremos a discutir o país num contexto eleitoral que não surge por questões programáticas ou de governação, mas sim devido a investigações sobre a vida profissional e familiar do Primeiro-Ministro antes de assumir funções. O desenrolar vertiginoso dos acontecimentos culminou na rejeição de uma moção de confiança, precipitando a queda de um Governo que, apesar da sua maioria ténue, conseguiu apresentar resultados concretos. Negociou com várias classes profissionais há muito reivindicativas, garantiu paz social e desbloqueou decisões estruturais como a localização do novo aeroporto de Lisboa. Além disso, demonstrou um ímpeto reformista ao procurar soluções para os problemas da população, com particular atenção aos mais jovens, conscientes das dificuldades em permanecer no país devido às condições salariais e ao problema da habitação.

Com este cenário, as eleições legislativas acabam por ofuscar as autárquicas, que decorrem dentro do calendário normal e deveriam manter o protagonismo até à data prevista. O poder local democrático, uma das maiores conquistas de Abril, continua a mobilizar a população, como se verifica em Arouca, onde o envolvimento cívico tem sido significativo. No entanto, a dinâmica autárquica sofreu um impacto inesperado: as sessões de apresentação de candidatos e os calendários partidários, antes totalmente focados nas autárquicas, agora enfrentam uma nova realidade política imposta por este acontecimento inesperado.

Ainda assim, a política local continua no centro da discussão. No seu último Conselho de Ministros antes da moção de confiança que ditou a queda do executivo, o XXIV Governo Constitucional aprovou a terceira e última fase da Variante Arouca-Feira. Esta decisão reflete a necessidade de resolver processos que se arrastavam há anos e careciam de decisão efetiva. Não surpreende, por isso, que a medida tenha entrado no debate político local, influenciando tanto a campanha legislativa quanto a autárquica.

O posicionamento de Margarida Belém, Presidente da Câmara Municipal, após este anúncio, é um exemplo disso. Afirmou que “não será com este Governo que as máquinas irão para a estrada”, uma declaração que, mais do que uma análise técnica, parece refletir um alinhamento político-partidário. Além disso, revela alguma falta de respeito institucional perante um compromisso que pode beneficiar diretamente o concelho.

O ano de 2025 será, sem dúvida, um ano eleitoral intenso. Que estas eleições tragam a necessária clarificação política e que os portugueses reflitam e expressem, através do voto, a sua posição sobre todo este processo e as decisões que levaram à queda de um Governo e de um Primeiro-Ministro empossados há menos de um ano. Será um verdadeiro teste à maturidade democrática do país. Que os partidos saibam assumir as suas responsabilidades e que os eleitores votem de forma consciente, escolhendo quem melhor pode governar Portugal, tanto a nível nacional como local.

Opinião de Artur Miller

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