OS PERIGOS DO RIO PAIVA

Por: Alberto de Pinho Gonçalves

O rio Paiva tem tanto de belo como de perigoso.

Ao longo dos séculos, foram muitas as pessoas que no mesmo perderam a vida.

De alguns chegou-nos a notícia pela descrição nos mais diversos registos, nomeadamente em jornais, nos tempos mais recentes.

Mas nos tempos mais recuados, quando não havia os meio de comunicação social, que hoje temos à nossa disposição, alguma informação, por vezes, é dada por padres mais minuciosos nos registos paroquiais, que deixaram para a posteridade o facto ocorrido, ao lavrarem o respectivo registo do óbito.

Foi o que aconteceu com o pároco da freguesia de Janarde, à época, Manuel Mendes Ribeiro, que faz o registo de uma vítima do rio Paiva.

No mesmo, lavrado a 9 de Junho de 1887, começa por nos dizer que às oito horas da manhã «apareceu em um remanço da Paiva nos limites desta freguesia, hum individuo do sexo mascolino o qual no dia seis do mesmo mez chegando ao pe do mesmo rio no lugar de Metriz desta freguesia, e não achando o barco pronto, se começou a regaçar as calsas, para passar o vau ainda q estaua ahi uma molher do mesmo lugar e lhe disse q a Agoa tinha crescido, e que elle se afogaua; porem elle não atendeu ao auiso, e seguio pela Agoa fora, e chegando ao mais fundo a Agoa o levantou e desandou pela corrente abaixo e se afogou, era homem que ninguém de por aqui savia sua naturalidade, andaua de terras para terras a fazer e uender criuos de arame, e peneiras de cujos andragios ficarão alguns amarrados em um pau que existe no dito lugar de Metriz em casa de Joaquim Rodriguez, era homem ainda nouo, ainda de pouca barba de estatura regular, não se lhe podião notar os mais signais por estar juncamente enxado,  e quasi podre quando no dia dose ueio a Justiça para lhe fazer a inspessão para o enterrar; uestia umas calças de Cotim Colete, e xambre da mesma fasenda. E por estar impossibilitado dos maus cheiros, e totalmente delacerado, lhe Benzi, o Sepulcro, e se enterrou ao pe da Agoa

Foi uma triste aventura (talvez levada por se encontrar na flor da idade), que custou a vida a uma pessoa, cuja identidade ficou para sempre na obscuridade do tempo[1].

 

 

[1] ADAVR – Regist. Paroq. Freg. São Barnabé de Janarde. Livro de óbitos, n.º 29, fls. 2v.

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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