Uma das outras rubricas em destaque da última edição de 2024 da “Revista Lobos”, a revista oficial do FC Arouca, foi a “Regresso ao Passado”, onde apesar da viagem temporal ter sido curta, a verdade é que o entrevistado foi alguém que deixou recentemente uma marca no emblema arouquense que irá perdurar no tempo. Falamos de Rafa Mujica, ponta de lança espanhol, que deixou o clube no final de maio de 2024, após duas épocas de enorme sucesso desportivo. 37 golos em 68 encontros disputados não é para qualquer um e Mujica deixa saudades até hoje aos adeptos arouquenses e do futebol português no geral. Foi dos principais colaboradores para o sucesso desportivo da equipa, com os seus preciosos golos, mas também arrecadou inúmeros prémios individuais, tais como uma presença no onze da época 23/23 da Liga Portugal e ter-se tornado o jogador espanhol com mais golos numa só época em Portugal neste século.

Mujica começou por revelar como se proporcionou a oportunidade de se mudar de Las Palmas de Gran Canaria para terras de Santa Mafalda. “Os meus agentes falaram-me de terem sido contactados através do Joel Pinho e do Flávio Soares sobre a possibilidade de poder ingressar no FC Arouca. A verdade é que eu vinha de alguns anos sem jogar muitos minutos e o FC Arouca tinha acabado de lutar pela permanência até perto do fim. Na teoria, tanto eu como o clube estávamos a procurar fazer da temporada de 2022/23 um ano de afirmação. Fiz a minha pesquisa e considerei que juntos poderíamos ter um bom casamento e que podíamos alcançar objetivos juntos. Claro que as expetativas pessoais, no início, foram sempre mais baixas do que se tornaram na realidade, no final do ano.”, começou por referir.

Mesmo tendo chegado a Arouca como “um avançado sem golos” (frase de Armando Evangelista, enquanto comandava o FCA), rapidamente estes começaram a surgir, algo que o avançado considerou como inesperado, assim como a qualificação europeia. “Foi inesperado, mas acabamos por encontrar um ponto de equilíbrio em ambos. Gostei bastante da Primeira Liga. Os jogadores espanhóis têm tendência a menosprezar o campeonato português, mas a verdade é que o nosso futebol vai muito de encontro com o futebol jogado em Portugal. Daí a aposta em jogadores espanhóis ser também cada vez maior. O objetivo da Direção foi, desde o início, a qualificação europeia. Pensei que era apenas mais um sonho irrealista, como já me apresentaram em tantos outros clubes. A verdade é que via a qualidade do plantel e os resultados foram aparecendo. Acho que, a meio da temporada, já todos acreditávamos que podíamos fazer um ano histórico. (…) A única coisa que mudou para conseguir fazer muitos golos foi a confiança que o clube e os treinadores me passaram desde o princípio. Já tinha muita confiança em mim e sabia que, com essa confiança, iam-me sair bem as coisas dentro de campo.”, apontou.

Apesar da saída recente, Mujica admitiu já sentir saudades do FC Arouca: “Sinto saudades de muitas coisas e de muitas pessoas com quem me cruzava diariamente. Ainda mantenho contacto com muita gente do clube e ainda tento acompanhar os jogos do FC Arouca, sempre que posso. Foi o clube que apresentou uma vila que me acolheu muito bem desde o primeiro dia e o país onde vivia quando a minha filha nasceu. Sei que me tornei um homem de família mais maduro e mais preparado para o Mundo. Por isso digo sempre que fui muito feliz em Arouca e que devo muito da minha vida ao FC Arouca. Foi, sem dúvida, o melhor e mais importante clube por onde passei em toda a minha carreira profissional. A alegria que me deu durante dois anos é complicado retribuir.

Por fim, Rafa Mujica endereçou uma mensagem sentida aos adeptos arouquenses, deixando em aberto um possível regresso aos Lobos de Arouca. “A minha mensagem para todos os adeptos do FC Arouca é que estarão no meu coração para sempre. Tanto os adeptos, como o clube e como a vila de Arouca. E espero que também esteja no deles. Também gostaria de dizer que me fizeram sentir que serei mais um arouquense para sempre e, quem sabe, se não nos voltaremos a encontrar no futuro.”, concluiu.

Texto: Simão Duarte

Foto: FC Arouca