Campo Afonso Pinto Magalhães foi inaugurado há 53 anos

No passado dia 26 de Setembro, fez 53 anos desde que o Campo Afonso Pinto Magalhães foi inaugurado, o único estádio em verdadeira posse do Futebol Clube de Arouca (ao contrário do Estádio Municipal de Arouca, que é cedido pelo Município). A estrutura não mudou muito desde a saída da equipa principal do Arouca e, apesar de relatos públicos de pessoas a queixarem-se de “degradação” da estrutura, tem-se recentemente salientado um esforço, apontado a quem lá trabalha, para dar melhores condições a todos. Hoje em dia, o Campo acolhe as camadas jovens do FCA, bem como os sub-13 masculinos e a equipa feminina principal do Centro Juvenil (CJSA).

Inauguração e História do Campo

As festividades da inauguração do Campo, a 26 de setembro de 1971 (à época, um domingo), como relatado no Defesa de Arouca e disponível para visualização no Arquivo Municipal, iniciaram-se às 14h30, com a receção da caravana do FC Porto no lugar de Chão de Ave. Meia hora depois, arrancou a cerimónia propriamente dita, com o corte da fita e o descerramento da lápida comemorativa pelo homenageado Afonso Pinto Magalhães. De seguida, o Campo foi abençoado pelo senhor D.Domingos de Pinho Brandão, a que se seguiram palavras de saudação e homenagem por António Moreira Duarte, presidente do FC Arouca à data.

O jogo entre o Arouca e as reservas do Porto arrancou às 16 horas e terminou com um resultado favorável aos azuis e brancos (0-6). Na Defesa de Arouca, A.Ferreira da Silva escreveu que a equipa do Arouca esteve bem até aos primeiros 20 minutos, criando até a primeira oportunidade de perigo, mas daí em diante, o poderio do adversário impôs-se, com “resultado certo. Arbitragem regular.”. Pelas 20 horas, o dia de festa terminou com um copo de água no refeitório do Colégio Salesiano, no Mosteiro.

As palavras de quem lá passou

Nos dias anteriores ao desta efeméride, o DD falou com três ilustres figuras que passaram largos anos nesse mesmo campo:  António Correia, que foi massagista do FCA por 30 anos; António Matos, antigo jogador, capitão e treinador da formação e ainda Hugo Xavier, antigo jogador.

Começando por António Correia, este começou por lembrar as condições do Campo: “Eram nulas. Quando veio o prof.Quaresma, dos melhores treinadores que conheci, disse que preferia ter menos um jogador para eu ter melhores condições para trabalhar.” Apesar dos tempos difíceis, António Correia lembrou o forte apoio: “Nos jogos em casa, entrávamos a ganhar. Atrás da baliza, do balneário, os árbitros tremiam.”.

António Matos começou por falar das dificuldades enquanto treinador da formação: “Fazia tudo, desde ir buscar roupa, marcar e alisar o campo, levava os miúdos a casa. Era aquilo que um treinador não deve ser, um treinador deve treinar. Naquela altura, se querias ter uma equipa da formação, tinhas de fazer tudo.”. Como jogador, salientou o espírito e o apoio: “O que salvava era a vontade e a força que nós tínhamos em jogar e a mística, aquele bairrismo que nós tínhamos. Era miúdo e no fim dos jogos, as pessoas juntavam-se no fim dos jogos, no Arouquense, para discutir o jogo, durante uma ou duas horas! Em termos de ambiente, jogar no Afonso Pinto Magalhães era soberbo. Quando recebíamos o Paivense, o Valecambrense, era a dobrar. Todos queriam jogar esses dérbis, querias lá saber se os balneários não prestavam ou se o campo era em terra, querias era jogar.”

Hugo Xavier esteve presente em subidas de divisão e, à imagem dos outros entrevistados, recordou o espírito da equipa e das bancadas: “Era incrível jogar lá em cima, com as pessoas muito em cima do terreno de jogo, à volta de todo o campo, 3/4 metros das linhas de jogo. Com a transição cá para baixo, bancadas mais longe do relvado, não se sentia tanto este fervor, uma marca registada dos adeptos do Arouca. Era muita loucura, as pessoas viviam o clube de forma ímpar. Continuo a dizer que o Maracanã e a paixão verdadeira pelo FCA estava lá em cima. A gente entra lá e, de facto, sentia-se uma vibração diferente, entrar num sítio onde estávamos habituados a ver milhares à volta nos montes, as romarias, com os carros a ir até à Portela. São tempos saudosos!”.

Por fim, referir outras opiniões coincidentes aos três entrevistados: todos concordaram que antigamente sentia-se maior apoio à equipa, principalmente porque agora a distância das bancadas para o relvado é maior; apelidaram o Campo de “Maracanã de Arouca”; salientaram os feitos dos presidentes José Carlos Mendes e Carlos Pinho e relembraram vários nomes que ficaram para a história: Rogério, Zeca Valente, Luís, Betinha, Zé António, Lourenço, Magalhães, Ferreira Pinto, entre outros.

Quem foi Afonso Pinto Magalhães?

Para dar a conhecer a figura do homenageado, o DD socorreu-se do seu cronista Alberto de Pinho Gonçalves, que por aqui escreve sobre Figuras e Factos do Passado. Remetendo para a obra de sua autoria, intitulada “110 Figuras Arouquenses”, este é o retrato de Afonso Pinto Magalhães: nasceu no Porto em 1913, cuja família estabeleceu-se na freguesia do Burgo. Considerado “uma das figuras marcantes do século XX em Portugal”, foi um empreendedor de sucesso, tendo fundado o Banco Afonso Pinto Magalhães, a Gráfica Arouquense (1955) e a SONAE (1959). Amigo dos mais necessitados, doou muito dinheiro para o “Hospital da Misericórdia” e lançou o “Lar do Comércio”. Na área do Desporto, para além de ter doado uma “quantia avultada” de contos para a construção do estádio referido neste artigo, esteve ligado à direção do FC Porto como Presidente do Conselho Fiscal (55/56, 65/66) e Presidente da Direção (de 67 a 72).

 

Várias fotos do arquivo pessoal de António Matos

Fotos. Arquivo Pessoal António Matos

Texto: Simão Duarte

sobre o autor
Simão Duarte
Discurso Direto
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