Dia Internacional da Mulher | “Os Direitos das Mulheres não podem esperar”

“Desafio”, “Responsabilidade”, “Paixão”, “Esforço”, foram algumas das palavras mais repetidas nos testemunhos dados pelas mulheres entrevistadas pelo DD, para assinalar o seu Dia Internacional, num trabalho que pretendeu, além da história de vida, mostrar um pouco do seu contexto familiar, vida profissional, valores, objetivos e prioridades. A comemoração desta efeméride assume-se como importante, de ano para ano, na medida que relembra as conquistas das mulheres que, ao longo da história, lutaram por alcançar e garantir os seus direitos e diminuir o preconceito

Cristina Saavedra-Professora de Matemática e Presidente da Casa FCP Arouca

“A minha opinião ou dos meus irmãos era sempre compreendida pelos nossos pais, embora, claro adequada à época”, começou por adiantar, em primeiro lugar, a professora Cristina Saavedra (56 anos) ao DD, questionada sobre a infância e ambiente familiar. Em relação à profissão destacou que sempre fora “incentivada” para continuar os estudos, “deram-nos essa oportunidade”.

Apesar do seu pai sempre querer “um filho homem”, situação que veio a acontecer, não fez com que existisse diferença na educação nem no “tratamento do dia-a-dia”, relativamente às filhas, que eram três.

A docente também confidenciou que “decidiu ser professora de matemática”, depois de ter realizado uma substituição temporária de uma professora que estava em licença de maternidade, e após ter experimentado ficou “fascinada”. No que toca ao seu trabalho clarificou que os desafios aparecem no dia-a-dia, pois “o trabalho com os jovens é isso mesmo, sempre desafiante”. Mais explicitou que não crê que uma mulher tenha de se esforçar o dobro para atingir cargos de chefia ou “vencer”, e ter sucesso em profissões “dominadas” por homens. “Considero sim, que todos temos que trabalhar, muito e bem, para alcançar o que pretendemos”, referindo que entende que muitas mulheres “não gostam, não querem ou não pretendem por exemplo”, entrar na política, em associações ou até “ter um cargo de mais destaque”. A professora também destacou que “há sim um mito, que o futebol é para homens”, garantindo que na parte das tarefas diárias tem “um marido” que a “ajudou” e ainda ajuda.

Ainda sobre a sua profissão esclareceu que o ensino é “dominado por mulheres”, motivo pelo qual os homens “é que podem sentir-se um pouco discriminados”. Enquanto Presidente da Casa do Futebol Clube do Porto de Arouca, evidenciou que se trata de uma responsabilidade acrescida, todavia toda “a equipa ajuda” e estão “todos a remar para o mesmo lado”, e deste modo assegurou que “as dificuldades são ultrapassadas de forma natural”. “Posso dizer que tive muita sorte, pois todos me tratam com respeito, com carinho e muita consideração.”

O seu gosto pelo futebol “vem de muito cedo”, uma vez que desde muito “nova” ia com as suas amigas assistir, aos “domingos à tarde aos jogos do Futebol Clube de Arouca”, no campo Afonso Pinto Magalhães. “Os meus pais autorizavam, talvez porque também gostavam. Desde que me lembro o meu pai era sócio quer do Futebol Clube de Arouca quer do Futebol Clube do Porto.”

À pergunta “que conselho dava hoje ao seu eu mais jovem?”, CS revelou que seria “luta pelo que queres, porque o resultado é excelente”. Na certeza de querer “continuar a ser feliz” confessou que nunca viveu para realizar sonhos, uma vez que tudo “foi acontecendo naturalmente”.

Lara Guedes de Pinho- Professora Adjunta no Departamento de Enfermagem da Universidade de Évora e Investigadora no Comprehensive Health Research Centre (CHRC)

“A minha infância foi uma das melhores etapas da minha vida, rodeada de amigos e de família, pais, primos, tios e avós. Os meus pais sempre me motivaram a expressar as minhas ideias e a ser independente e autónoma no processo de crescimento”, salientou e entrevistada (36 anos) em primeiro lugar. “Foi, sem dúvida, uma infância feliz e cheia de afetos, que teve influência naquilo que sou hoje”, clarificou, revelando que as “brincadeiras com os seus amigos e primos” sempre tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da criatividade e discussão de ideias, e no que toca à sua profissão essa foi escolhida de forma livre.

Lara Pinho mais explicitou que tem um irmão cinco anos mais novo, e vários primos, (homens e mulheres), e “nunca” se apercebeu que houvesse distinção. “Em relação ao meu irmão ambos tínhamos tarefas atribuídas e não senti qualquer discriminação por ser mulher. Mas sabemos que nem todas as mulheres tiveram ou têm essa sorte”,esclareceu.

Atualmente docente e investigadora, confessa que não houve “um momento de decisão” para a escolha do seu trabalho, uma vez que foi “abraçando as oportunidades”, até chegar onde está “hoje”. Após ter-se formado em enfermagem, em 2006, nunca parou de estudar acabando por concluir mestrado e doutoramento. Um dos maiores obstáculos no seu trabalho é obter “financiamento para os estudos de investigação”, pois “é uma área muito competitiva”.

A investigadora também corroborou que em profissões dominadas “por homens”, a mulher tem de se esforçar mais para “atingir cargos de chefia”, principalmente pois são elas que “mais se dedicam”, aos filhos e “às tarefas domésticas”, o que no seu ponto de vista requer “um esforço redobrado”.

No decorrer da conversa deu ainda o exemplo de um caso no qual foi testemunha em que uma auxiliar de ação médica foi discriminada por estar a amamentar, e desse modo impossibilitada de fazer o turno da noite, sendo que o “hospital se recusou a assinar-lhe o contrato”, por esse motivo. Lara Pinho considerou que este se tratou de um caso claro de discriminação de uma mulher no acesso ao trabalho, “apenas por exercer um direito que nem era seu e sim do filho”. “O hospital perdeu a causa em tribunal, mas foram mais de dois anos de espera até vir a sentença final.”  A situação para a entrevistada agrave-se pois estamos a falar deum hospital público, “imagine-se o que se passará no setor privado”. Lara Pinho assegurou que “existem muitos casos graves de discriminação que não são sequer divulgados ou conhecidos, porque as mulheres têm medo e não se queixam, sacrificando a sua vida pessoal e familiar”.

Embora na sua profissão haja paridade de género no número de docentes no início da carreira, “menos de um terço dos professores e investigadores no topo da carreira são mulheres”, para este facto a investigadora deu a explicação de ser o sexo feminino aquele que, tal como referiu, despendem mais tempo a cuidar dos filhos e tarefas domésticas, “pelo que têm menos tempo para se dedicarem à progressão na carreira”.

Militante da CDU que é, elucidou que a sua maior inspiração na vida são os seus camaradas comunistas, pela “determinação, espírito solidário, combate às injustiças, resistência e nunca desistirem”. Este caminho que referiu é o quer seguir , caminho este que contou com a “imprescindível influência dos seus pais”.

O seu maior sonho é “ver mudanças” na sociedade, acrescentando que gostava que as pessoas tivessem mais “espirito crítico”, refletissem mais sobre “questões sociais, fossem mais solidárias”, e apontassem “menos o dedo”. “Afinal se pensarmos no próximo, estamos também a pensar em nós próprios”, exortou confessando que “se ganhasse o Euromilhões” reabilitaria um dos edifícios que outrora foram hospitais psiquiátricos, que estão abandonados, de modo a “formar uma equipa para a reabilitação psicossocial da pessoa com doença mental”.  

A professora, por fim, concordou que se continue a comemorar o Dia Internacional da Mulher não só para “recordar as conquistas alcançadas”, mas também para que se conquistem novos direitos, informando que esteve no dia 11 de março, em Lisboa, na Manifestação Nacional das Mulheres, organizada pelo Movimento Democrático das Mulheres (MDM), porque “os direitos das mulheres não podem esperar”.

Texto: Ana Isabel Castro

Fotos: Carlos Pinho

Cristina Saavedra
Almoço na abertura da Casa do FCP

Tomada de Posse
Lara Pinho em Universidade Rovira i Virgili-Esapnha
Mobilidade para troca de experiências de docência e investigação na Universidade de Chiang May-Tailândia
sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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