A Mulher deve fazer o que ela quiser

“Conservadoras” ou “vanguardistas”, “seguras” ou “intolerantes”, “reservadas” ou “liberais”. Tendemos sempre a olhar as mulheres tendo por base um padrão que consideramos válido e as representa. Esperamos delas determinados comportamentos em função desse padrão e avaliamos as suas atitudes e comportamentos de acordo com as categorias nas quais as colocamos. Mas será que isto faz algum sentido? Não estaremos, uma vez mais, a ser parte de uma cultura de manutenção e propagação de preconceitos e desigualdades assentes no género?

Escrutinamos e julgamos tudo o que uma mulher faz, desde os seus hábitos e atitudes perante a vida, ao trabalho pago e não pago, às relações com parceiros ou filhos – caso existam, ou à pressão sofrida para que os tenham, caso não seja essa a sua opção. Mas também a sua situação económica, o assédio sexual e o assédio moral no trabalho, as relações familiares e de amizade, a violência doméstica e de género, etc., tudo serve de mote para darmos a nossa sentença sábia sobre as opções que as mulheres tomam. Mas será que nos damos ao trabalho de perceber que as mulheres, à semelhança do que acontece com os homens, têm o direito de tomar as decisões que consideram mais válidas sem terem de se justificar constantemente apenas por serem mulheres? A resposta, infelizmente, é não. Continuamos a utilizar bitolas distintas para olhar e avaliar o comportamento de homens e mulheres, sendo que aos homens permitimos tudo e às mulheres apenas uma pequena parte. As mulheres continuam a ser maltratadas e desprezadas por dizerem o que pensam, pelas profissões que exercem, pela roupa que vestem, por arriscarem fazer, por mostrarem o seu corpo ou por quererem decidir o que fazer com ele. Isto parece uma coisa do século passado, mas não é. Ainda na semana passada criticamos e ofendemos violentamente uma artista brasileira que veio a Portugal julgando a sua inteligência pela quantidade de roupa que utiliza. Por mostrar o seu corpo, esquecemo-nos de a olhar como pessoa e como alguém que trabalha para dar voz a inúmeras causas e a outras mulheres que são continuamente desrespeitadas só porque sim. Já nos E.U. A., o mês de junho ficou marcado por um retrocesso civilizacional sem precedentes quando o Supremo Tribunal decretou o fim do direito constitucional ao aborto, permitindo que cada Estado possa definir se permite ou não a sua realização. Neste momento são já 21 os Estados onde este direito das mulheres foi banido ou restringido e todos sabemos que proibir o aborto não acaba com os abortos, acaba apenas com os abortos seguros para as mulheres, colocando em risco as suas vidas. As mulheres, e toda a sociedade, ao invés de continuarem uma luta incansável para conquistar o acesso aos seus direitos, estão a perdê-los e isto é gravíssimo para um mundo que se quer justo.

Infelizmente as desigualdades de género associadas a questões laborais, sexuais ou emocionais são ainda uma realidade: continuamos a ter mulheres e raparigas vítimas de violência doméstica ou no namoro – com abusos e assédios constantes, mulheres com trabalhos precários e baixos salários, mulheres sem acesso a cargos de poder/decisão e raparigas condicionadas nas escolhas escolares ou profissionais pelo seu género. Urge desconstruir estereótipos e preconceitos, apostar na formação e demonstrar que o género não determina direitos, deveres ou cargos.  Juntos, homens e mulheres como um todo, podemos construir um mundo assente nos valores da igualdade, liberdade, segurança, respeito, dignidade e equidade entre todas e todos.

Até quando vamos continuar a deixar as mulheres com medo? Com medo de se mostrarem, de fazerem o que gostam, de escolherem o que querem ou de viverem livres?

Falta-nos liberdade! Devemos ser capazes de seguir os nossos impulsos e concretizar os nossos sonhos, independentemente de sermos mulheres ou homens. É hora de podermos agitar as águas, não desistir e lutar pelo que acreditamos, sem condicionalismos ou julgamentos injustos condicionados por sermos mulheres.

Defender e lutar pela igualdade de oportunidades e de género, pela solidariedade e defesa da diversidade, pelo fim do racismo e da discriminação deve ser um compromisso de todos e é aqui que todos temos um papel determinante enquanto criadores de espaços inclusivos e com valores. Apostar numa mudança rápida de paradigma para fazer da igualdade de género uma prioridade e uma realidade é um desafio e um desígnio de todos, no qual devemos trabalhar de forma afincada para garantir uma cultura corporativa mais inclusiva e que permita a criação de uma sociedade mais justa e mais igual. A imagem estereotipada da mulher dependente e oprimida não apenas contradiz o atual conceito de feminização, como pode também criar barreiras à participação da mulher no mercado de trabalho e na vida social. Melhorar a perceção da sociedade sobre a situação das mulheres é urgente e fundamental para conquistarmos a igualdade que tanto ambicionamos.

É essencial refletir e traçar linhas estratégicas de orientação e ação no que diz respeito à emancipação e empoderamento no feminino, à igualdade de oportunidades e a uma cultura corporativa inclusiva numa causa que nos deverá mobilizar a todos.

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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