Não romantizar a guerra nem a chegada de quem dela foge

Por: Cátia Cardoso

O mundo está bom para quem desejava viver grandes momentos na História do século (que, diga-se, nem a ¼ vai ainda). Mas, nem a pandemia, nem a guerra, devem ser romantizadas e esse é um desafio de todas as partes da sociedade e que devemos encarar com sentido de responsabilidade.

Como escreve esta semana, no P3, Cláudia Lucas Chéu no conto “Não romantizem a guerra com o meu violino”: “Não quero romantizar a guerra quando toco violino. Dou-lhes Vivaldi porque são as únicas balas que me permito disparar, mas não romantizem a guerra com o meu violino, que, por acaso, é russo”.

Portugal, à semelhança de outros países, tem-se mostrado solidário com o povo ucraniano, recebendo aqueles que procuram esta nação para se refugiarem da guerra em busca de uma vida melhor, com paz.

Nesse sentido, Arouca tem estado em linha com o cenário solidário, recebendo quem foge da guerra e procurando a criação de respostas para quem decidir ficar no concelho. 

Aqui, todas as organizações e agentes locais podem (e devem) ter uma intervenção positiva de integração, que não passe pelo lamentar a situação daquelas pessoas, mas que preveja uma inserção sociocultural efetiva e, dentro do possível, racional.

Considerando que a esmagadora maioria de quem chega ao país são mulheres e menores de 18, as políticas de juventude, bem como as políticas culturais, podem afirmar-se como alavanca a esse desafio.

Não somente numa lógica de mostrar aquilo que cada região é e tem, porém, demonstrando igualmente interesse na cultura do povo que recebemos e permitindo-lhes a partilha da sua identidade, considerando que as sociedades evoluídas são também elas multiculturalistas e que todas as partes se enriquecem no conhecimento da diversidade.

A escola deve, desde logo, ser um espaço seguro e as crianças sensibilizadas, sendo certo que essa sensibilização será fulcral que aconteça primeiramente em casa. Dada a solidariedade que tem vindo a ser revelada, é possível que sim, que as famílias estejam à altura do desafio e que tenhamos crianças e jovens de coração aberto a quem chega e com prontidão para ajudar e abertura para aprender. Afinal, todos temos a aprender com todos.

Igualmente, as associações locais podem assumir uma função integradora, sendo certo que a integração de pessoas com diferentes experiências de vida, conhecimentos e, eventualmente, perspetivas poderá ser muito mais benéfica para quem já lá está e para as próprias organizações, pela margem de se potenciarem. É, por isso, aqui vincado o apelo. 

Não deve é nunca se tratar de uma postura de consternação (refira-se que quem já chega terá, por certo, ultrapassado um mar de emoções em todo o percurso). Deve, sim, encarar-se a possibilidade como um momento de aprendizagem mútua. Ajudar no que for preciso, mas saber tratar o outro como parte igual da comunidade. Não somente fazer coisas para quem chega, mas permitir-nos construir com essas pessoas projetos e dinâmicas.

Não exaltar a nossa identidade, mas permitir-lhes tomarem parte dela. No fundo, sem romantizar. Mesmo sabendo que grande parte de quem chega não perdeu ainda a esperança de regressar à Ucrânia e quer crer que a estadia em Portugal será temporária. E mesmo que até seja. Tem de ser um dever nosso – enquanto seres sociais, culturais e humanos – saber acolher e integrar, impedir que as pessoas se sintam ‘a mais’ ou que estão ‘do lado de fora’ da comunidade onde estão. Do meu ponto de vista, apenas assim estaremos a promover uma efetiva integração.

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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