Vereador da Câmara Municipal de Arouca, Fernando Mendes, em entrevista: “Os arouquenses podem confiar no meu trabalho, na minha dedicação”

Cumpridos dois anos enquanto vereador da Câmara Municipal de Arouca, Fernando Mendes assume que quer deixar a sua marca na política do concelho e disso faz evidência na entrevista que nos concedeu. Para além de um balanço desta primeira metade do mandato falou-nos sobre a sua experiência enquanto presidente de junta, sobre o trabalho desenvolvido pela oposição, bem como a ação desenvolvida pelo seu partido: o PSD. As próximas eleições, uma eventual recandidatura à presidência da Câmara e o desenvolvimento do concelho foram outros assuntos abordados.

As razões para um mandato como Vereador”

Discurso Directo (D.D.): Dois anos depois das eleições autárquicas que balanço é possível fazer do seu trabalho enquanto Vereador?

Fernando Mendes (F.M.): Tenho sido fiel ao projecto que construímos para as últimas eleições, procuro fazer o melhor que sei todos os dias, mesmo não tendo ganho as eleições, para que os arouquenses possam reconhecer uma referência na política em Arouca, de motivação, de confiança, de credibilidade, de seriedade. Estou sempre disponível para ouvir as reivindicações dos munícipes, sou contactado diariamente por causa de problemas que existem, estudo muito os temas que considero importantes. Os arouquenses podem confiar no meu trabalho, na minha dedicação. Move-me sempre uma força muito grande, que quer trabalhar muito pelo desenvolvimento de Arouca.

D.D.: Enquanto vereador, já influenciou alguma(s) decisão(ões) do executivo camarário maioritariamente socialista?

F.M.: Quando se faz parte de uma equipa, com uma postura sempre interventiva, sempre disposta a contribuir, influenciar uma decisão é algo natural. Desde o início que apresentamos propostas em todas as reuniões, sobre todos os assuntos. Muitas vezes é-nos criada uma barreira e desvalorizam-se as nossas propostas, mas o que é certo é que passado uns tempos aparecem, são até aproveitadas pelo executivo socialista. Sabemos que as nossas propostas tem muito valor, resultam de muita análise, de muita experiência de vida na área da gestão, de lidar diariamente com números e ter que decidir bem para que possamos ter sucesso. Permitam-me aqui que deixe uma palavra ao meu colega Vítor Carvalho, que é uma autêntica força da Natureza, um ser humano exemplar. Estamos sempre motivados para dar o melhor de nós. Aproveito para convidar todos os arouquenses, para acompanharem o nosso trabalho, para participarem nas reuniões de Câmara, e comprovarem aquilo que tem sido feito por nós.

D.D.: Foi durante vários mandatos presidente de Junta (Arouca e Burgo). Essa experiência acumulada tem sido útil para o desempenho do cargo de Vereador?

F.M: Claro que sim, fundamental até. Em primeiro lugar pela capacidade de ouvir as pessoas, sentir quais são os seus problemas reais, aquilo que realmente precisam, encontrar as melhores soluções para desenvolver a sociedade. Orgulho-me muito do meu trabalho e das equipas que liderei, na freguesia do Burgo, depois também em Arouca. Foram mandatos de muito trabalho, de muitas dificuldades, mas também de coragem para fazer obras necessárias, criar estradas dignas na freguesia, manter a freguesia limpa, organizada, envolver as associações, criar uma dinâmica forte.

Visão crítica sobre o trabalho da Câmara

D.D.: Que análise, que visão crítica, tem da ação da Câmara Municipal?

F.M.: Se fosse Presidente da Câmara Municipal de Arouca, faria diferente. As prioridades seriam outras e a forma de trabalhar seria desde logo mais aberta, disponível ao diálogo com todas as forças do concelho. Em primeiro lugar, precisamos de olhar para os arouquenses e o seu dia-a-dia. Precisamos de estradas dignas para deslocações dentro do concelho e de ligações aos grandes centros, de forma urgente. Precisamos de organizar o nosso território, começando pela floresta, onde se gastam centenas de milhares de euros, o que se traduz em muito pouco. É urgente ampliar e melhorar a rede de saneamento básico, que como sabe, é uma prioridade minha desde sempre. Precisamos de apostar no desenvolvimento económico, apoiar as nossas empresas, os seus trabalhadores, criar condições para que haja melhor emprego, em Arouca, para que as empresas sejam competitivas, com zonas industriais de maior dimensão, com melhores condições, com melhores ligações. Apoiar os jovens, a criação de negócios, o acesso à habitação e ao arrendamento, a criação de famílias, apoiar a Natalidade. Somos diariamente confrontados com problemas ambientais, os nossos rios estão poluídos, temos lixeiras e depósitos de resíduos quase descontrolados. A Câmara Municipal de Arouca tem que assumir as suas responsabilidades, fazer uma muito melhor gestão do seu orçamento e melhorar a vida das pessoas. Perdemos população diariamente para os municípios vizinhos, não oferecemos garantias aos nossos jovens, aos nossos trabalhadores, para que se fixem cá. Porquê? Estou convicto que aqui há uma falha clara do executivo socialista, em especial da Sra. Presidente, que prefere apostar numa forma errada de “valorização do território”, mas que na verdade não promove verdadeiro desenvolvimento sustentável. Entre muitas outras questões, de importância para os arouquenses.

D.D.: Como vê o trabalho dos partidos da oposição, ou se quiser da oposição?

F.M.: Um desafio interessante, mas muito difícil, pelo menos em Arouca. Os meios que possuímos são muito limitados, muitas vezes os documentos e o desenrolar dos processos não é partilhado connosco de forma devida. Apesar disso, temos feito um esforço enorme para conciliar tudo, analisar todos os documentos e todos os assuntos de forma exaustiva, apresentar em todas as reuniões de Câmara propostas concretas, muitas ideias, que são públicas e muito aplaudidas. Temos estado perto da população, sempre a recolher os seus contributos, temos actividade permanente nas redes sociais, na comunicação social, onde partilhamos todo o nosso trabalho, onde temos uma opinião permanente e registada, sobre os assuntos. Gostamos de dar o nosso melhor, vale a pena fazê-lo porque os arouquenses merecem, somos um povo maravilhoso que merece o melhor, merece uma Arouca melhor, com mais oportunidades para todos.

O trabalho político do PSD

D.D.: Como avalia o trabalho político dos autarcas do PSD (Câmara, Assembleia, Juntas) neste dois anos de mandato?…E do PSD?

F.M.: Penso que é um trabalho muito positivo, muito dedicado. São pessoas extraordinárias, com as quais me dá especial gosto trabalhar. O PSD Arouca tem sido sempre solidário com os seus autarcas, tem estado ao lado das dificuldades dos arouquenses e quer, como todos, o melhor para Arouca.

D.D.: O PSD tem assumido uma bandeira: uma descentralização de competência da Câmara para as juntas de freguesia, obviamente associado a um pacote financeiro. Acredita que com este executivo há viabilidade para que esta pretensão se concretize?

F.M.: Não acredito, desde logo porque qualquer Presidente de Junta que queira realizar uma obra na sua freguesia, tem que “pedir por favor” à Sra. Presidente, que gosta de centrar tudo em si e decidir conforme lhe for conveniente. Eu fui presidente de junta, sei o que é trabalhar com meios quase inexistentes, sei o que é ter as pessoas diariamente a pedir para resolver problemas. As Juntas de Freguesia precisam de ter mais competência, para poder fazer um trabalho melhor. Mas vamos aguardar.

D.D.: Uma das principais críticas que o PSD tem feito ao Executivo, ao longo dos últimos anos, tem a ver com as adjudicações diretas. O que é certo é que essa prática não tem mudado. Haverá razões para tal? Acha que tudo está a ser feito em conformidade?

F.M.: O PSD não é nem nunca foi contra o processo em si. O PSD alertou sempre para a necessidade de se tratar sempre de tudo de forma transparente. Mais ainda, para que o processo não seja usado como uma ferramenta eleitoralista. Há um relatório que é público e que aponta irregularidades. É nosso dever zelar por aquilo que é de todos. É isso que faremos sempre.

Gosto sempre que Arouca seja falada pelos melhores motivos”

D.D.: Sente que Artur Neves é hoje um político fragilizado após ser arguido em dois processos judiciais?

F.M.: Como já tive oportunidade de dizer, não é meu dever pronunciar-me sobre esse assunto. Vi-o com surpresa e tristeza. Gosto sempre que Arouca seja falada pelos melhores motivos e nesse aspecto tentarei ser sempre uma referência de seriedade para os arouquenses.

D.D.: As suas incessantes questões colocadas nas reuniões de Câmara, no período antes da ordem do dia, dão especial atenção à importância do concelho ser dotado de um rede capaz de saneamento básico. Acredita que essa luta vai valer a pena?

F.M.: Disse muito bem, “incessantes”. Como sabe, a questão do saneamento básico é fundamental, é algo que eu elegi sempre como uma prioridade. É uma necessidade básica da população, não se pode admitir que um concelho como o nosso, que se quer e diz evoluído, tenha ainda 50% da área de cobertura de rede, por fazer. Queremos que as pessoas tenham condições dignas para viver, o saneamento e abastecimento de água serão sempre uma luta, não minha, mas de todos, até que se realize. Passou uma década desde que aderimos à empresa Águas do Norte, até hoje que resultados conhecemos? Temos que exigir junto da empresa, diariamente, aquilo que nos é devido. Não nos podemos sentar à espera que o façam por nós, ou atirar a responsabilidade para terceiros. Se eu fosse Presidente da Câmara Municipal, seria incansável, até ver este problema resolvido.

D.D: Houve diálogo com a Presidente da Câmara para a elaboração das Grandes Opções do Plano (2020/23) e Orçamento para 2020?

F.M.: Houve o diálogo habitual, que consideramos pouco, para a importância que estes dossiês exigem. Sentimos que há pouca abertura por parte da Sra. Presidente para acolher as nossas propostas. No entanto, não deixa de ser curioso ver que os conceitos que introduzimos ao longo do tempo, como já disse, vão aparecendo aos poucos. Para dar um exemplo, “segurança”, que foi sempre uma preocupação nossa.

Os avultados valores investidos no setor de turismo

D.D.: Na sua perspetiva o que falhou para que em 2019 a variante não esteja ainda concluída, e muito menos iniciada?

F.M.: Vontade política por parte dos sucessivos governos, falta de fundos em altura de crise, falta de uma estratégia bem definida ao longo do tempo, sem ziguezagues que nos conduziram a este desfecho que todos conhecemos. Fomos sucessivamente enganados, os arouquenses foram enganados nas eleições uma vez mais, quando se promoveram cerimónias pagas pelo município, assinaturas de papeis, de contratos, de tudo e mais alguma coisa. Não nos podemos esquecer que a Variante foi promessa socialista ano após ano, com novas soluções, com novos acordos, com novas promessas, que falharam redondamente. Mais uma vez o digo, comigo a liderar Arouca, a postura seria diferente. E não tenho dúvidas que já teria conseguido iniciar a obra.

D.D.: Concorda com os avultados valores investidos no setor de turismo?… e em concreto com a ponte suspensa?

F.M.: Desde que sou autarca, até antes de o ser, que defendi que o património que Arouca possui, merecia ser aproveitado, para fins turísticos. Temos paisagens magníficas, fenómenos geológicos únicos no Mundo, histórias e lendas, aldeias lindíssimas. Temos que continuar a apostar no turismo, sem dúvida. Agora, deve ser feita uma aposta sustentável, com bons projectos que sejam rentáveis, enquadrados na nossa realidade, sem prejudicar a Natureza. Repare no que está a acontecer aos nossos rios, à nossa floresta. Se por um lado queremos mostrar o que temos de bom, por outro temos que o preservar. Quanto à ponte suspensa, se fosse Presidente da Câmara, apostaria no projecto com menor impacto ambiental e até visual, numa estrutura com a mesma imponência e dimensão, mas melhor inserida na paisagem. E não concordo, não concordo mesmo, com a maneira que a Sra Presidente escolheu para conduzir o processo, escondendo todos os dados, todos os estudos, fazendo segredo de tudo, mesmo com os vereadores. Fez isso com a ponte, fez isso com os passadiços, quando pedimos os dados para avaliar as questões da sua gestão, vejam o que dizem os números. Investimentos na ordem dos milhões de euros, merecem muita análise, muito estudo.

D.D.: Os subsídios da Câmara para a associação Geoparque tem criado polémica. Como vê esta questão? … e o papel desta estrutura associativa?

F.M.: Criam polémica pela forma como tudo é feito. A associação Geoparque tem um papel reconhecido na sociedade, é um elemento chave no desenvolvimento turístico. Precisa de financiamento e de apoio da Câmara Municipal. Mas precisa de independência para poder trabalhar com liberdade, para que se possa aferir qual é realmente o seu papel, quantificar as suas acções. E aqui digo uma vez mais, a Sra. Presidente não pode querer, até por questões legais, assumir tudo como seu. Há técnicos especializados, estruturas próprias a trabalhar, há que confiar neles, no seu trabalho.

D.D.: Como empresário e como autarca como vê o atual estado de desenvolvimento do concelho? … Quais os principais entraves?

F.M.: A dependência do poder central, dos grandes centros e a cada vez maior desertificação dos concelhos de menor dimensão. A falta de uma via de ligação, de e deve fazer, desde logo reformas estruturais na justiça, na saúde, na educação, ter regimes fiscais e estímulos à economia que promovam crescimento económico. Promover a tal coesão territorial, mas com medidas concretas, mais do que anúncios pomposos que ficam no papel.

D.D.: O que pode e deve fazer Arouca para ser um território competitivo?

F.M.: Conforme já referi, deve mobilizar todas as forças vivas do concelho, cidadãos, associações, instituições públicas e privadas, empresas, em torno de uma estratégia de crescimento e desenvolvimento económico, de mais indústria, de mais oferta de mão de obra qualificada, de preservação dos seus recursos para que sejamos melhores. Fazer um melhor uso dos recursos públicos, distribuir melhor as verbas dos orçamentos anuais, evitar os desperdícios, no fundo maior controle das contas para que se possa investir.

O PSD, o futuro e uma eventual recandidatura: “Existirá sempre da minha parte uma motivação muito grande para trabalhar por Arouca”.

D.D.: O que falta ao PSD para voltar ao poder em Arouca?

F.M.: Trabalho, muito trabalho. De todos, a começar por mim, todos os dias. Desengane-se quem pensar que a Câmara de Arouca se conquista num dia só. O PSD tem uma base eleitoral em Arouca muito forte, que precisa de se mobilizar, o que só acontece com o empenho e união de todos. O PSD tem pessoas com muita capacidade, que gostam muito de Arouca e de política, tem autarcas com um trabalho excelente, trabalho de décadas em alguns casos. Senti o partido unido nas últimas eleições, fizemos uma campanha fantástica, por todo o concelho, no contacto com as pessoas. Eu tinha a profunda convicção que íamos ganhar. E se tivéssemos ganho, hoje Arouca estaria melhor, não tenho quaisquer dúvidas. Acredito que só nos falte mesmo uma oportunidade para mostrar o nosso valor. Eu lembro-me quando me foi dada na Junta do Burgo, vejam como evoluiu a freguesia em 10 anos, a todos os níveis.

D.D.: Como perspetiva as próximas eleições autárquicas?

F.M.: Não serão fáceis para o PSD, obviamente. Mas acredito que se for mantido este caminho definido, com um projecto credível, bem estruturado, com pessoas válidas e competentes, há que ter esperança num resultado sempre a crescer e a conquistar a confiança de mais arouquenses. Apesar do contexto totalmente favorável ao actual executivo, há ainda muito por fazer.

D.D.: Equaciona uma eventual recandidatura à Câmara Municipal de Arouca?

F.M.: Como sabe, todas as minhas candidaturas foram até hoje movidas por uma vontade enorme de servir a população, melhorar a sua qualidade de vida, fazer obra pelas pessoas, dar o melhor de mim, reunir equipas cheias de talento, ouvir as pessoas na rua, sentir aquilo que lhes faz bem, construir algo nesse sentido. Existem hoje os mesmos problemas, as mesmas lacunas, a mesma inércia para trabalhar muitos temas, que existiam quando me desafiaram para liderar este projecto. Existirá sempre da minha parte uma motivação muito grande para trabalhar por Arouca. Sei que há pessoas que querem muito que me recandidate, dizem-me todos os dias na rua. Mas tudo a seu tempo.

D.D.: E sobre as diretas do PSD: Rio…ou Montenegro?

F.M.: Tenho muita consideração quer pelo Dr. Rui Rio, quer pelo Dr. Luis Montenegro. O PSD é um partido grande, e os militantes devem fazer a sua reflexão para escolher o melhor líder para o futuro, para ganhar as eleições autárquicas e as próximas legislativas. Seja quem for, contará com o meu contributo. A minha escolha, neste momento, guardarei para mim, sendo certo que em primeiro lugar, está sempre Arouca.

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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