OPINIÃO | Reflexão

Decorreu no passado dia 14 de Outubro a tomada de posse dos novos órgãos autárquicos e, com isso, a eleição da nova mesa da Assembleia Municipal do concelho de Arouca. Por óbvias razões, bem me tentei negar a fazer uso deste espaço para tecer algumas considerações sobre tal ato. Mas, perdoe-me o leitor, vamos assistindo a um desfile de “verdades” e “pós verdades” morais e absolutas, a um total condicionalismo de opiniões e de uma corrente de informação que assola o dia-a-dia das pessoas que, de quando em vez, vale a pena sentar, refletir e escrever com o melhor discernimento sobre assuntos que são falados, comentados e que fazem parte da política local. Ora tal estado de coisas é matéria bastante para que, aqui, na opinião publicada, exista um lastro de alguma sobriedade e efetiva democracia na análise política.

Observo com curiosidade os vários devaneios e ziguezagues de que certos e determinados atores políticos da nossa praça usam e abusam de forma a justificar aquilo que qualificam como valores morais e éticos (encapotados por vitórias eleitorais de outros intervenientes) e que nada os dignificam. E, mais curioso ainda, a disparidade de análises e retóricas perante iguais situações e mesmíssimos contextos. Evocam sempre uma qualquer diferença nas situações atrás referidas, quando comparadas, e infelizes aqueles que constroem qualquer argumentário que ponha em causa a moralidade e a “nobreza” de tais atos quando praticados por tão “dignas” pessoas.

Propagandear democracia é, efetivamente, percebê-la e trabalhar para que esta seja mais justa, equitativa e plural. Aliás, nas leituras que fiz pela imprensa local, é disso exemplo a forma democrática como os representantes das forças que concorreram aos diversos órgãos autárquicos respeitaram o veredicto dos arouquenses e parabenizaram a eleição da nova Presidente da Câmara Municipal. Somos todos Arouca, como o referi no meu último articulado!

Mas, pelos vistos, não chegava. Havia algo que estava já a ser “denunciado” e que, para determinados olhos, era pressuposto bastante para vociferarem que não era justa a votação na Assembleia Municipal, nomeadamente a sua constituição (que foi também ela o plasmar do mesmíssimo voto daqueles que elegeram o executivo e as assembleias de freguesia). Segundo a interpretação de uma “certa” corrente de opinião, o previsível desfecho da votação na Assembleia Municipal não refletia a vontade do povo, as pessoas não votaram “naquilo”, muito menos determinaram a constituição da Mesa e de uma maioria… Aos olhos de alguns, seria inconcebível que a democracia e o voto livre de cada um dos intervenientes diretos legitimamente eleitos não refletisse aquilo que eles próprios achavam “correto”. A vitória em si, uma boa vitória na Câmara Municipal, não chegava, terem mais deputados não chegava, era imperioso que os presidentes de Junta eleitos e conotados com um projeto alternativo votassem no que essa corrente determinava, haveriam de “arranjar forma” de os convencer disso. Enfim, haviam de fazer o pleno, independentemente de apelos de unidade para uma lista conjunta. Certo?! Bem-haja quem, em outras condições semelhantes, a disputou de forma saudável e democrática, compreendendo os projetos em que cada um está inserido e a sua visão sobre o melhor para cada órgão.

Num novo ciclo, as pessoas querem que todos remem para o mesmo lado, sendo essencial a Oposição no normal funcionamento de uma democracia plural. E isso foi tentado, caro leitor. No entanto, a tentação do poder pelo poder é bastante forte, embora seja sempre conotado com o mesmo lado. Infelizmente!

Terá culpa própria quem igualmente se entrega a causas e ao longo dos anos vem apresentando ideias e programas alternativos, mas que, digamos, não tem merecido o voto maioritário no executivo?!

Como acima referi, nem mesmo a procura de uma solução conjunta bastava! Teria de ser feita “justiça”. Nem mesmo uma candidatura sugerida e subscrita e por vários eleitos e simpatizantes, por todo um grupo de 19 pessoas reunidas pouco antes do sufrágio, colmatada por um incentivo pessoal de cada um destes a essa lista, cara-a-cara com os protagonistas, afirmando-a e ratificando-a duas horas antes! Pelos vistos, uma epifania resolveu o imbróglio, houve alguém que teve o “bom senso” de fazer o “correto”, dar o dito por não dito, e votou de forma a repor o que acima referi: o poder pelo poder, completo e absoluto, culminado até num “inesperado” discurso de vitória improvisado.

Bem-haja aos novos eleitos. Votos de bom trabalho. Cá estaremos, como sempre, a dar o nosso melhor por Arouca, gratuitamente, de forma voluntária, com resiliência até que um dia nos seja dada essa oportunidade. Com pessoas certamente com outro estofo, com uma dignidade e uma postura que sempre acolhi, que sempre preservei e que sempre determinei para o rumo da minha vida, cujo melhor exemplo que tenho é esse mesmo, o do meu pai. Continuaremos juntos!

Artur Miler

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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