Precedendo, como preparação para o maior evento cultural de Arouca, que é a sua Recriação Histórica, o evento “Retratos do Barroco” é sempre uma ocasião e um pretexto para descobrir, estudar e dar a conhecer alguns dos mais importantes documentos da história de Arouca.
Se os “Retratos do Barroco” do ano passado trouxeram a Arouca o “Testamento da Rainha Santa Mafalda”, um importante documento do sec XIII guardado na Torre do Tombo e que esteve exposto ao público durante alguns dias, este ano foi a vez de trazer até ao Mosteiro de Arouca um outro importante documento histórico datado de 1649 e que é constituído pelas “inquirições de testemunhas e traslados de documentos respeitantes à beatificação e canonização de D.Mafalda, filha de rei D.Sancho I”.
Trata-se de um documento com 142 páginas preenchidas com as inquirições de dezenas de testemunhas sobre a vida, santidade, virtudes e milagres atribuídos a D.Mafalda e que faz parte do processo canónico para a causa da sua beatificação e canonização iniciado pelas monjas do Mosteiro de Arouca, sob a direção da Madre Abadessa D. Bernardina de Melo, para enviar à Santa Sé para posterior estudo e aprovação, o que viria a acontecer 144 anos depois, a 27 de junho de 1793, com a sua beatificação pelo Papa Pio VI.
Abertura da exposição
A abertura da exposição deste importante documento da história de Arouca teve lugar na Biblioteca de D.Domingos de Pinho Brandão, no dia 11 de julho, com a presença da Presidente da Câmara Municipal de Arouca, Drª Margarida Belém, bem como do prof. Luís Miguel Pinho que está a fazer a transcrição paleográfica deste documento para melhor se compreender e estudar.
Segundo referiu a Presidente da Câmara, além deste documento, agora exposto temporariamente em Arouca, muitos outros documentos originais sobre a história de Arouca aí permanecem guardados sendo de Arouca o segundo documento mais antigo guardado na torre do Tombo.
Refira-se que esta deslocação temporária de documentos da torre do Tombo ao encontro dos locais da sua origem, tal como já aconteceu o ano passado, foi uma iniciativa inédita da Câmara Municipal de Arouca, apesar dos enormes cuidados e encargos que tal deslocação exige.
Esta exposição estará patente ao público de 11 a 16 de julho.
O díptico-relicário de D.Mafalda
Além deste importante e raro documento da Torre do Tombo, outros dois documentos, também eles relacionados com a Rainha Santa Mafalda, o acompanham e que fazem parte do acervo do Museu de Arte Sacra de Arouca.
Um deles, o diptico-relicário de D.Mafalda do sec. XIII e que faz parte do seu testamento, é considerado o mais antigo retábulo-relicário constante nos acervos nacionais e que, juntamente com o tripico-relicário do sec. XVI, constituem dois dos objetos de ourivesaria mais valiosos guardados no Museu de Arte Sacra de Arouca.
Com 25 cm de altura, as faces exteriores deste díptico-relicário em prata dourada representam a Anunciação, estando o anjo à esquerda e a Virgem à direita. As faces interiores, também em prata dourada, contêm, do lado esquerdo, alvéolos quadrados destinados às relíquias, sendo o lado direito ocupado por um belo Calvário traçado a buril.
O processo da beatificação
Intimamente ligado a este documento da Torre do Tombo está patente nesta exposição um dos dois volumes do longo processo referente à beatificação e canonização da rainha D.Mafalda Sanchez e que, embora cópia do processo original, faz também parte do acervo deste Museu de Arte Sacra.
Sabe-se que o processo de beatificação de D. Mafalda “Lusitana Servae Dei Maphaldae” foi longo, complexo e algo acidentado, estendendo-se por séculos, apesar da fama de santidade e dos milagres atribuídos a ela já serem amplamente reconhecidos pelo povo, mesmo antes da sua beatificação oficial.
Para nos falar desses milagres, o prof.Luis Miguel Pinho fez uma interessante comunicação, logo após a abertura da referida exposição. A partir da transcrição paleográfica que este professor arouquense está a fazer do documento da Torre do Tombo, Luís Miguel revelou-nos alguns dos muitos milagres atribuídos a D.Mafalda e que constam nesse documento do sec. XVII. Esta comunicação foi ainda enriquecida com curiosas informações sobre as diversas tentativas de se iniciar este processo canónico, bem como a referência aos diversos intervenientes neste longo processo.
Curiosas foram ainda as informações sobre a transladação do corpo da rainha santa do seu túmulo em pedra para a uma urna-relicário em ébano, cristal, prata e bronze dourado, encimada pela coroa real e as armas de Portugal e de Espanha, realizado pelo ensamblador e arquiteto portuense José Francisco de Paiva em colaboração com o ourives António Pereira Soares.
A exposição ao público destes três raros documentos da história de Arouca e todos eles ligados à sua padroeira, é uma ocasião única para os arouquenses poderem conhecer, apreciar e valorizar a riqueza do nosso rico património histórico, muito do qual está guardado no seu belo ex-libris, o magnífico Mosteiro de Arouca.
Texto e fotos: José Cerca
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