Palavra, a quanto (des)obrigas…

Por: Margarida Rodrigues

Nas sociedades modernas, principalmente nas democráticas, todos os cidadãos usam da palavra, muitas vezes sem que tenham a total consciência do alcance e do poder que através dela atingem.

A palavra está associada à arte da oratória, à argumentação, à discussão e à filosofia, legado da cultura greco-latina; permite a participação ativa na vida pública e política de uma comunidade e constitui a base da cidadania.

Contudo, a palavra nem sempre é usada de forma benéfica e positiva. A palavra é, por vezes, mal escolhida, apressada, descontrolada, maligna, perniciosa, dúbia e hipócrita…

Às vezes a palavra socorre-se das entrelinhas, deixando à deriva a interpretação objetiva, imparcial, real e concreta da mensagem. Às vezes não se afirma, sugere-se. Às vezes não se responde, suspende-se a palavra… Às vezes não se repõe a verdade, silencia-se. Às vezes espera-se que a palavra seja esquecida e se torne impossível de repetir e provar…

A palavra falada voa com o vento. Diria que a palavra escrita também… Atualmente, a palavra, a honra e a verdade parecem andar de costas viradas. São necessários tribunais e juízes para se provar o que se disse e fez, quando antes a palavra dada ou falada bastava por si só e os mentirosos, manipuladores e faltosos assumiam mea culpa.

A palavra bonita engana, ilude, vicia, tira vantagem, é interesseira e matreira… A palavra bonita, é adequada ao momento e à circunstância, mas é oca, sem suporte nem raiz… Quem a profere é politicamente e socialmente um ator da sociedade, uma máscara… Palavras de circunstância há muitas… Atores de máscara também… Diria que talvez sejam atores desprovidos de vidas próprias ou com vidas infelizes, que tiram satisfação no ato de coscuvilhar, inventar, propagar e denegrir a vida dos outros…

Também a bíblia nos fala do perigo da língua e da palavra, comparando-as com o fogo que queima e destrói. Associada à mentira, à calúnia e aos falsos testemunhos, destrói amizades, relações familiares e carreiras profissionais. Também a honra é posta em causa porque a palavra impõe a dúvida.

Hoje em dia ao ouvir a palavra, devemos assumir um comportamento defensivo: devemos analisar quem a profere, a intenção com que é dita, se é baseada em factos credíveis e verdadeiros e refletir sobre a posição que devemos tomar perante a mesma, sabendo de antemão que não devemos propagar nem dar crédito ao que não interessa, não sabemos ser verdadeiro e não nos diz respeito…

Hoje há fake news, fake words, fake persons, fake lifes…Perdoem-me os estrangeirismos… Acrescentaria ainda fake politics, fake press, fake economy…

O maior problema é realmente saber se a palavra ainda é de confiança, ou não. Se por detrás da palavra existem valores, honra e carácter.

A palavra obriga ou desobriga? É o que falta descobrir…

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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