As montanhas mágicas

Por: Vasco Portugal |Núcleo da IL em Arouca

Não sou religioso, nem supersticioso, místico também não. Usando um termo popular, sou um orgulhoso increu.

Talvez por isso, fico sempre desconfiado quando vejo a palavra “mágico” usada para qualificar algo concreto e palpável.

Neste caso em particular refiro-me às “montanhas mágicas” e às “aldeias mágicas”. Mágicas porquê?

Vamos às primeiras.

As belíssimas montanhas, a que o povo Arouquense orgulhosamente chama “suas”, são uma exuberante demonstração da força da natureza, uma extraordinária obra com milhões de anos que nem o novo riquismo das pontes metálicas ou das bizarras construções em betão conseguem vulgarizar. Estas, e outras vaidades passageiras, serão a seu tempo apagadas da paisagem.

As montanhas, essas, são eternas.

Quanto às aldeias, as aldeias são a real motivação desta crónica.

As aldeias espalhadas pelas serras do interior de Portugal, neste caso as que se distribuem pelo território abrangido pelo concelho de Arouca, nada têm de mágico. Afinal são o resultado do trabalho abnegado de inúmeras gerações de homens e mulheres que arrancaram do chão o seu sustento. O belíssimo efeito visual da sua criação também não é mágico; resulta antes da adaptação do homem às condições que a natureza lhe impõe: “se a natureza te dá xisto, faz a tua casa com xisto, se chove e neva, cobre-a com lousa.”

Posto isto, de onde vem a “magia”? Do facto de estarem abandonadas? Da triste constatação da fuga dos que lá estavam imposta pela modernidade?

Que acharão os descendentes dos habitantes destas aldeias desta qualificação? “A aldeia dos meus avós é mágica porque nenhum dos seus descendentes conseguiu sobreviver sem emigrar?”; “E agora é uma espécie de aldeia museu porque está abandonada?”

Como é possível que quem devia, por obrigação do cargo para que foi eleito, promover a ocupação de todo o território que administra, criar condições para a reocupação dos territórios agora “mágicos”, mais ainda em tempos de teletrabalho e de custos exorbitantes da habitação nas zonas do país “não mágicas”, prefira vender o abandono como algo “mágico” e celebre a desertificação?!

Promover o concelho de Arouca é uma obrigação de todos os Arouquenses, em particular dos decisores políticos. Celebrar o abandono e a “magia” é desistir!

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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