As vindimas na região são feitas em tempos diferenciados. Um vasto território veste-se de tradição, desde a apanha das uvas, às lagaradas, a visita às adegas, a prova do vinho novo, entre dias de muito calor e a alguma chuva. Este ano há uma marca: o calor que levou a que as vindimas se iniciassem mais cedo. Culpa do calor excessivo, implacável desde maio. Está a ser assim em 2022, assim continuará a acontecer no futuro, antecipam os produtores. O vinho, esse, seguirá, talvez com outras características que os tempos atuais pouco permitem antecipar. Porventura diferente, mas igualmente estimulante.
O impacto da chuva dos últimos dias.
“A chuva prejudica a colheita sobretudo dado que esta ainda está numa fase ainda de maturação” – disse ao DD um dos vinicultores com quem falamos, Rui Silva. Na mesma linha foram as declarações do Presidente da Confederação de Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, que à Renascença admitiu, contudo, que a chuva que tem caído nos últimos dias, “é benéfica, principalmente depois de um período tão grande com ausência de chuva”. Certo é que, com esta, “o ambiente fica propício ao desenvolvimento de fungos e esses fungos podem prejudicar todo o processo de vinificação a que a uva vai ser sujeita”, disse o presidente da CAP.
“Se a humidade baixar, o facto de haver mais uns dias com temperaturas acima de 25 graus já não vai provocar grandes diferenças na maturação das uvas e, portanto, todas as uvas anteciparam a sua maturação por causa da ausência muito prolongada de chuva e temperaturas muito elevadas durante o verão. Por isso é que as vindimas começaram mais cedo”, conclui o presidente da CAP.
No país a produção é maior que a dos últimos anos.
“Estima-se que a produção de vinho na campanha 2022/2023 venha a atingir cerca de 6,7 milhões de hectolitros, o que se traduzirá num decréscimo de 9% face à campanha 2021/2022. Relativamente à média das cinco últimas campanhas, esta previsão representará um crescimento de 2%”- informou recentemente o Instituto do Vinho e da Vinha em comunicado, que, no entanto para a região dos Vinhos Verdes prevê “um aumento na produção de cerca de 10%. A baixa incidência de pragas e doenças afigura-se como a principal causa para este aumento. A atual instabilidade climática poderá, contudo, condicionar a atual previsão, devido a acidentes decorrentes de fenómenos atmosféricos que afetem o normal desenvolvimento do cacho nas fases que se seguem até à vindima”.
Os responsáveis da região dos Vinhos Verdes informam, recorrentemente, da importância de “efetuar a vindima na altura ótima, isto é, com as uvas maduras e sanitariamente bem conservadas. Para a determinação da data da vindima pode recorrer-se a métodos simples, empíricos, mas subjetivos, (que são do conhecimento da generalidade dos produtores) ou então através de métodos mais rigorosos, que consistem na avaliação da evolução da maturação, pelo aumento da concentração dos açúcares e diminuição da acidez total do mosto, que estabilizam ao mesmo tempo que se atinge o máximo do peso dos bagos.
Castelo de Paiva.
O concelho (município) de Castelo de Paiva tem uma superfície de 115 km² e das suas vinhas são produzidos 1.202.552 litros do Vinho Verde Paiva DOC (Campanha de 2020-2021, CIPVV). Este volume faz Castelo de Paiva ser o 25° maior produtor de Vinhos Verdes de Portugal, de um total de 48 concelhos (municípios) produtores.
Os fatores naturais e humanos do meio geográfico desta sub-região, bem como a peculiaridade das castas autóctones e as formas de cultivo da vinha, tornam este vinho muito peculiar – especialmente o tinto.
Neste município tem havido um esforço concertado, que envolve também a Câmara Municipal, para que haja um “excelência da produção” e que os vinicultores locais apostem na qualidade e na promoção, como forma de garantir o escoamento da produção e a ser mais reconhecidos. Segundo uma auscultação feita junto de alguns produtores há grande expectativa quanto à vindima deste ano, assim como para o posterior escoamento do produto.
A Casa de Algar, localizada na freguesia de Santa Maria de Sardoura, em Castelo de Paiva, é uma quinta vitivinícola com cerca de 8 hectares. Produzem vinho verde (branco, tinto e rosé), sendo os mesmos comercializados e mais conhecidos por “Pata da Burra”.
Este vinho, resulta de um projeto familiar com longa data, estando a quinta localizada numa zona privilegiada, numa encosta do vale do Douro, a cerca de 150 metros de altitude. Alcançou um nível de elevada qualidade, o que resultou em todo o profissionalismo que se associa à produção destes vinhos.
À semelhança de muitas quintas, a Casa de Algar, já se encontra desde o final do mês de Agosto a realizar a apanha “com as castas mais precoces na maturação – Trajadura e Fernão Pires.”, referem ao Discurso Directo.
Entretanto, outras castas vão atingindo também a fase de maturação e o ponto ideal para a sua apanha. Apesar de estarem já no ponto de apanha, existem por vezes fatores, como é o caso da meteorologia que não permitem que a colheita seja feita de imediato. Na semana passada, devido à queda e previsão de chuva, tiveram de interromper a apanha, que retomaram, no entanto, no final da semana. O objetivo é finalizar a colheita no fim desta semana para que possam dedicar-se inteiramente à produção de vinho.
Esta quinta faz a sua “colheita 100% manual feita para caixas de 45l que são transportadas até à adega, onde as uvas são posteriormente processadas para a elaboração de vinho”. Têm um método de colheita feito por parcelas e as uvas de cada casta são processadas separadamente, originando as diferentes referências dos vinhos Pata da Burra. Recorrem à contratação de pessoas exteriores à empresa que, em conjunto com o pessoal da casa, garantem a colheita em perfeitas condições.
Para que possam melhorar a qualidade da vindima, começam todos os dias por volta das 7 da manhã e acabam às 13h, de forma que a temperatura das uvas, quando chega à adega possa ser mais baica e permitir, dessa forma, melhores condições de fermentação e, consequentemente, melhores vinhos. Utilizam todas as uvas que produzem na quinta para serem processadas em vinho, pelo que, “(…)o controlo de qualidade do vinho começa logo na vinha e estende-se ao longo do processo de vinificação.”, informam.
Quando questionados face às expectativas de produção este ano realçam “(…) são boas no que se refere à quantidade e qualidade. Caso não tivesse ocorrido o tempo demasiado quente em julho, a produção seria ótima, uma vez que, sem escaldão teríamos mais uvas e sem os problemas de maturação mais atípica.”
A maior ameaça para a produção do vinho, neste momento, é o aumento de custos que se tem verificado ao longo do ano, não só neste, mas em vários setores, seja a nível da mão de obra, combustíveis, eletricidade, fertilizante, entre outros. “Até ao final do mês de Agosto, o ano foi bastante bom, mas começamos a notar uma menor procura nos segmentos onde estamos, devido à inflação galopante que a todos atinge.”, relatam.
Contudo, a Casa de Algar procura diversificar a sua atividade, estando a realizar várias atividades no âmbito do enoturismo, com visitas pela quinta, assim como provas de vinho comentadas. Para o futuro, pretendem ter também a oferta de agroturismo, com a inauguração de uma estrutura turística com 6 suítes, como forma de fechar o ciclo do vinho e do turismo.
Uvas de Arouca para vinho famoso.
O tempo dos carros de bois já lá vai e hoje em Arouca o que se vê é sobretudo tratores e furgonetas, algumas dos quais levam as uvas até Penafiel. Irão fazer parte de um dos mais consagrados vinhos verdes: os da Quinta da Aveleda.
Ao falarmos com alguns trabalhadores de diferentes vindimas estes não deixaram de partilhar connosco de como é duro esse trabalho. Aqui e ali ainda há registos de trabalho comunitário, mas é um hábito que se vai perdendo. No Vale de Arouca grande parte da produção é para consumo da casa de família, sendo que as tradicionais e duradouras pipas de madeira de carvalho dão agora lugar às cubas de inox e as lagaradas ainda só se usam para dar cor a o vinho “ou para recordar tempos idos”. Quase todos, mesmo os pequenos produtores, têm esmagadores mecânicos.
De referir que Castelo de Paiva pertence à sub-região de Baião e Paiva e os municípios de Arouca e Vale de Cambra integram a área geográfica de produção de vinhos verdes com direito à Denominação de Origem.
Segundo a estatística publicada pela Pordata, Portugal tem hoje 175.591 hectares de vinha, quando em 1986 a área plantada com videiras era de 258.593 hectares.
A venda de vinho doce.
Por estes dias, nas bermas das estradas nacionais, não falta vinho novo para venda (foto de arquivo).
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